Foto: Sérgio Odilon

No bairro do Engenho do Mato, em Niterói, a população, passou a ter acesso aos livros e às vivências no espaço, estimulando uma nova perspectiva e a cultura de solidariedade na região. Diretamente da rua pra escola, a Biblioteca Engenho do Mato (BEM) nasceu em 2013 na Região Oceânica de Niterói, sendo ocupada por uma autogestão que tem como base o voluntariado.

A ideia de construir uma biblioteca comunitária surgiu numa roda cultural com apresentações de artistas locais, batalha de MCs e doação de livros na praça do Engenho do Mato. A praça se localiza em frente ao que antes era uma biblioteca abandonada no terreno da escola. Com uma grande arrecadação de livros, a roda cultural atraiu estudantes, que convidaram seus familiares, e juntos transformaram um pedacinho do CIEP 442 Ruy Frazão Soares na BEM. Essa história foi contada no livro “Territórios-rede em movimento: a ocupação da Biblioteca Engenho do Mato”, lançado em 2023, com autoria da geógrafa Luísa Marques Dias.

Mais do que uma biblioteca que oferece livros, o coletivo construiu um lugar de acolhimento, com projetos que dialogam com a comunidade, oferecendo uma série de oficinas gratuitas no bairro, a maioria delas são oficinas de formação artística e cultural (como audiovisual, percussão brasileira, capoeira, kung-fu, yoga, coral, balé infantil inclusivo e artesanato afro), abrigando ainda atividades do Projeto Jovens Comunicadores, Pré Universitário social, Rede Cria (apoio à maternidade e primeira infância), Narcóticos Anônimos (NA) e diversos projetos voltados para a saúde mental.

De acordo com o professor e voluntário Rubens da Silva, a maior contribuição da BEM para a comunidade seria a relação que se tem com os moradores e alunos do CIEP Ruy Frazão Soares. “Estudantes de outras escolas, como a Almirante Tamandaré e Alcina Rodrigues também cursam com a gente, o nosso Pré comunitário sendo o único na Região Oceânica de Niterói, voltado para estudantes negros, pobres e de escolas públicas” afirma Rubens.

Nas prateleiras da biblioteca, o público encontra livros de poesia, romances, teatro, livros de diversos gêneros, literatura negra, indígena, livros grandes e pequenos, gibis, para crianças, livros de História, Sociologia, Filosofia, Artes, biografias, num acervo com aproximadamente 5 mil obras, cuidadosamente selecionadas por mãos voluntárias.

Para pegar um livro emprestado na BEM, é só procurar nas prateleiras e levar o livro para casa, não precisa anotar nada. A pessoa fica livre para trazer o livro de volta quando terminar a leitura. De acordo com voluntários da BEM, a biblioteca é organizada em mutirões comunitários, as arrecadações continuam, e os livros passam por uma triagem constante, abastecendo outras bibliotecas comunitárias com livros para doações, como a biblioteca ambulante da Roda Cultural do Engenho do Mato.

Segundo a ambientalista e voluntária Hanna Marchon: “a maior contribuição da BEM para a comunidade é o fato de que se torna um espaço voltado a atender e a proporcionar momentos de qualidade para as pessoas que frequentam o espaço, gerando novas oportunidades de experiências em diversos segmentos, desde a saúde mental até atividades culturais, como música, artes marciais, musicalidade, dança, trabalhos manuais e diversas manifestações artísticas. É um espaço coletivo que tem o objetivo de fortalecer as relações das pessoas através do trabalho coletivo. Mostrando que é possível o coletivo unido transformar a vida das pessoas para melhor. Uma oportunidade da comunidade se encontrar, se conhecer e somar juntos pelo bem da comunidade e suas pessoas.”

A Biblioteca Engenho do Mato (BEM) se consolidou um espaço de relevância para o desenvolvimento comunitário na Região Oceânica de Niterói, principalmente nas áreas da cultura e da educação. Organizada como um coletivo heterogêneo e autogestionado, a BEM é uma referência em ações de inclusão cultural.

Para o pesquisador e voluntário Felipe Siston, “a BEM se multiplica. É uma força que inventa, entre outras coisas, novas formas de cuidado com a sua vizinhança. Eu, quando estive no meio de uma situação de vida complicada, de saúde mental, descobri a BEM aqui no meu bairro. E a partir disso, com a possibilidade de participar de um coletivo que te dá autonomia, por meio da autogestão, me vi participando e criando novos coletivos, como a BEM+ Laboratório Informal, uma célula, que agora é um empreendimento da economia solidária, e também preza pela autonomia e o cuidado com a saúde mental.”

Matéria publicada no Jornal A VOZ DA FAVELA, edição dezembro.