O entrevistado é o fotógrafo Ubirajara Carvalho, o Bira. Ele tem uma trajetória de resistência política e participação social dentro do Complexo da Maré; favela Nova Holanda. Ele se destaca também por ser uma liderança comunitária. Bira formou-se em fotografia pelo projeto: imagens do povo do Observatório de Favelas. O entrevistado merece destaque, pois o seu trabalho é de beleza e aliando a técnica fotográfica a questões sociais. Aqui um bate-papo com um poeta das imagens.
– Quando começou a sua paixão pela fotografia?
– Eu me apaixonei no primeiro dia de aula em 2000, me apaixonei pela fotografia humanista, foi isso que me chamou atenção, respeito ao fotografado.
– Qual o cenário das suas fotografias e qual o impacto que isso causa nos fotografados?
– Meu cenário é o mesmo de onde sou cria! O Complexo da Maré. Sou apaixonado pela favela que moro, Favela Nova Holanda, as ruas…
– Você tenta chamar a atenção pra beleza que existe na Favela com suas fotografias?
– Minhas fotos são sobre o que sinto e vejo, sem a pretensão de mostrar algo… a beleza aparece, pois a favela é bonita, as pessoas, minhas fotos, são o reflexo do meu afeto.
– Você sendo um cadeirante, já sofreu preconceito por isso fazendo arte e dando asas ao que vê?
– Preconceito por ser cadeirante… [risos] sou cadeirante, preto, favelado e filho de nordestino… eu tenho meus direitos negados todos os dias nesse país, e deficiente… não é todo espaço que oferece acesso a todos. Já perdi prova da UERJ por o Táxi e UBER se recusarem a levar cadeirante.
– Você considera que a saída para o jovem de Favela é uma intervenção cultural?
– O divisor de águas para os jovens de favela é investir nos sonhos desses jovens, seja arte, seja o que for o dom deles, mas arte faz refletir sobre o território onde moramos e isso pra mim é potente.
– Quais os temas mais bonitos que gosta de registrar na sua lente?
– A rua é extensão da minha casa, fotografo o cotidiano das ruas, das favelas, pois uso a fotografia como uma forma de interagir com os moradores e aprender todo dia.
– Já fez alguma exposição de fotos com sua obra?
– Já tive minhas fotos expostas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), Correios… não lembro todos, sei que tive em vários grandes espaços e em outros países.
– Conheci você palestrando num meio acadêmico, como é a experiência de palestrar para os alunos de Faculdade?
– Falar sobre o espaço de favela é tranquilo, pois é o espaço onde penso e moro, mesmo estando em espaço de universidade, reconheci moradores, então foi tranquilo.
– Qual o momento de saber a foto certa?
– Momento de fotografar, de se sintonizar com a alma da favela, aí a foto vem.
– O fotógrafo é um cronista do cotidiano?
– São vários cronistas, além do fotógrafo tem o compositor de samba, de funk, a galera que faz vídeos, os comunicadores da favela, o problema era quando a única fonte de informação era a grande mídia, o que fez com que a favela fosse apresentada com toda forma de preconceito, fazendo com que o subconsciente da sociedade enxergasse a favela pelo medo e não pela potência.