“O pessoal geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Eu já sou o presidente da república…Eu sou, realmente, a Constituição”, declarou na manhã de hoje, 20, o presidente Jair Bolsonaro, à saída do Alvorada, em imitação bizarra do monarca francês Luís XIV, autor da célebre “L’Etat c’est moi”, ou “O estado sou eu”, para os descendentes dos tupis e guaranis. Se as palavras de sua excelência ontem na rua já tinham incomodado o mundo político e militar, as de hoje são a prova pronta e acabada de que ele tem certeza de que a História lhe sorri.
Bolsonaro tentou se explicar: “Peguem o meu discurso: não falei nada contra qualquer outro poder; muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro. É isso, mais nada. Fora isso é invencionice, tentativa de incendiar a nação que ainda está dentro da normalidade”. Atenção para o advérbio de tempo “ainda”.
Cabeças coroadas no demais poderes da república estão cada vez que ele abre a boca mais convencidas de que o golpe, ou autogolpe, ou o que a imaginação fértil dos manipuladores do poder no Brasil, está na esquina, falta apenas um empurrãozinho, que pode vir de fora do mundo político, de um saque a supermercado, uma manifestação convocada por sindicatos ou pela internet, uma nova facada.
E antes de sair para o Planalto, ainda declarou: “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”. Os presentes ficaram se perguntando o que terá acontecido com o “Brasil acima de tudo”. Será que amanhã será “Eu acima de tudo”?