O presidente Jair Bolsonaro testou positivo para Covid-19, segundo ele próprio declarou em entrevista à TV Brasil: “Começou domingo, com uma certa indisposição, se agravou na segunda-feira, com cansaço, indisposição e febre de 38 graus. O médico da presidência, apontou a contaminação por Covid-19 e fui fazer uma tomografia no hospital. Equipe médica decidiu dar hidroxicloroquina e azitromicina. Como acordo muito durante a noite, depois da meia-noite senti uma melhora, às 5 da manhã tomei a segunda dose e estou me sentindo bem”, disse.
Em outra entrevista, à TV Record, Bolsonaro foi ainda mais incisivo: “Acredito que não só o atendimento que eu tive, mas a forma como foi administrada a hidroxicloroquina. Foi quase de imediato (a melhora). Eu não sou médico, sou capitão do Exército. Mas a cloroquina, dada na fase inicial, a chance de sucesso chega por volta de 100%. Eu tô normal. Em comparação com ontem, eu tô muito bem. Até com vontade de fazer uma caminhada por aí, mas não posso por causa de recomendação médica”.
Tendo em vista o retrospecto do presidente na pandemia desde os três exames feitos quando votou da visita a Miami e cujos resultados relutou em tornar públicos até a defesa da cloroquina e da hodrixicloroquina no tratamento de Covid-19, desaconselhada por autoridades sanitárias brasileiras e estrangeiras, a súbita contaminação e cura deste começo de semana levantam desconfianças de mais uma fake news presidencial.
Nem mesmo exames positivos da doença afastam suspeitas de que o presidente faz uso político da repentina contaminação, detectada no domingo por sintomas apresentados e curada na manhã de hoje, 7, depois de duas doses de hidroxicloroquina e azitromicina. Em geral, a infecção pelo novo coronavírus demora mais tempo para ser notada e muito mais para ser curada, segundo todos os estudos científicos apresentados até agora. O período de quarentena para casos suspeitos, por exemplo, é de duas semanas, por indicação médica.
O uso de cloroquina é apregoado pelo presidente da república desde o tempo do ministro Luiz Henrique Mandetta na Saúde. Aliás, foi o remédio a causa de sua demissão e de seu sucessor, Nelson Teich, que também se recusou a adotar o protocolo bolsonarista para o tratamento de infectados em qualquer estágio da doença. O presidente forçou o laboratório do Exército a produzir 2 milhões 250 mil comprimidos de cloroquina a um custo de R$ 1,5 milhão, enquanto tentou convencer os dois ministros da Saúde a adotar o remédio. Conseguiu êxito, afinal, na interinidade do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde.
Outra questão é a Lei da Máscara, aprovada no Congresso e que vem sofrendo vetos quase diários de Bolsonaro, antes da sanção. O uso obrigatório de máscaras protetoras em recintos fechados, como templos e igrejas, escolas, presídios, unidades de internação de menores para medidas socioeducativas e outros foi cortado da lei e as frequentes aglomerações em bares e restaurantes reabertos por governadores e prefeitos reforçam a impressão de que Bolsonaro busca com sua contaminação e cura em dois dias argumentos pró-liberação com cloroquina em larga escala.
Finalmente, some-se a isto a retomada gradual da economia traduzida na emissão de R$ 23 bilhões e 900 milhões em notas fiscais eletrônicas por dia no mês passado, segundo a Receita Federal acaba de divulgar e reforça-se a ideia de uma ação conjunta do governo, com o presidente, a Ministério da Economia e até o das Comunicações para impor ao país a cloroquina como panaceia da pandemia do novo coronavírus. Isto fica mais evidente com a nota da assessoria de Fábio Faria, o ministro das Comunicações:
“O resultado do teste de covid-19 feito pelo Pr Jair Bolsonaro na noite dessa segunda-feira, e disponibilizado na manhã de hoje, apresentou diagnóstico positivo. O presidente mantém bom estado de saúde e está, nesse momento, no Palácio da Alvorada.
Secom/Min. das Comunicações”.