Visita ao quilombo Barro Preto, em Santa Maria de Itabira. FOTO: Divulgação

 

A mulher negra foi desumanizada por muito tempo. Desconstruir essa herança deixada pelos colonizadores é pauta que se arrasta há séculos. Alguns passos em direção à essa desconstrução estão sendo dados por Glauce Mara, idealizadora e proprietária do Box da Nêga, em Itabira, cidade do interior mineiro onde nasceu o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.

Ela conta que a ideia do empreendimento surgiu a partir de insights que teve no decorrer da vida. “Escassez de produtos voltados para nossa africanidade e a relação forte da solidão da mulher negra. Quando juntei todas essas necessidades surgiu o box, pensando sempre no espaço para essa negra suprir as suas faltas”, explica Glauce.

Além do empreendedorismo e da formação em Educação Física, Glauce é pós-graduada em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira e em Saúde da Mulher. A formação acadêmica, a própria história e as vivências de Glauce Mara foram fundamentais para a criação do Box em 2020. Os produtos comercializados são apelidados de Munições de Poder.

Empoderamento e resgate

“Não é sobre acessórios, e sim sobre resgate ancestral e reparação histórica”, fala a empreendedora sobre o significado do nome de empoderamento. Glauce acredita que o poder da mulher negra está dentro dela e merece ser enaltecido através de um singelo adorno.

O ato de enfeitar-se com cores intensas e vibrantes não é somente por vaidade. Faz parte da cultura africana o uso do colorido e de peças como símbolo de resistência e reafirmação da identidade.

Entre as diversas “munições de poder”, Glauce destaca brincos de MDF, acrílico e brincos com tecidos variados de estampas africanas, como kente, capolana, dakishi, ankaras, amakaka.

Fazendo a cabeça

Um adereço considerado de máxima representatividade é o turbante. Ele é feito de tecidos de diversos modelos, amarrações e uma infinidade de cores que retrata a identidade visual africana.

Nos países africanos eles são usados com finalidades funcionais, como proteger a cabeça ao carregar bacias, madeiras e outro utensílios. No Brasil, o tecido veio pelas mãos das escravas africanas que cobriam os cabelos curtos os raspados.

Para Glauce, representa também uma coroa: somos descendentes de reis e rainhas que viveram na África. “O significado desses produtos para as mulheres negras é resumido em uma só palavra: pertencimento”.

Parcerias

O Box da Nêga se fortalece através de diversas parcerias de pequenas empreendedoras negras ou que cuidam de outras negras. Glauce conta que todas têm o espírito de ubuntu e assim a sensação de solidão da mulher negra cai por terra.

“A minha preocupação é a reparação histórica, trazer o reconhecimento e a glória dessas mulheres. A missão é enaltecer a beleza e a cultura negra”, conclui.

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