Quando se fala em Boxe, lembramos de Esquiva Falcão, Popó Freitas e Eder Jofre. No Brasil temos muitos atletas bons na modalidade, que batalham bastante para ter seu lugar ao sol, em um esporte que não é tão popular no país.
Destaque vai para três atletas em especial: Douglas Andrade, Rebecca Lima e
Wanderson de Oliveira, que já competem pelo Brasil em torneios internacionais. Os três vieram da favela da Nova Holanda, e com força, vontade e determinação, buscam lutar para vencer e ser exemplo a outros jovens de outras comunidades do Rio de Janeiro.
- Douglas Andrade
Atleta oriundo da ONG Luta Pela Paz, na Nova Holanda. É atual líder na categoria Peso Mosca (52 kg) no Ranking da CBBOXE (Confederação Brasileira de Boxe). Quatro vezes campeão Brasileiro.ANF: Quando você viu o interesse no boxe? Quais são seus maiores ídolos?
“Então, eu passei a ter um verdadeiro interesse no Boxe por influência do meu irmão que já gostava, com foco em sair das ruas e ocupar me tempo e energia. Meu ídolo não é um grande boxeador ,é a minha mãe. Pra mim é a maior guerreira que existe! E meu maior exemplo de vida.”
ANF: Até aqui, quais as dificuldades que você tem, ou teve na sua carreira de boxeador? Teve alguma dificuldade por você ser morador de favela?
“Bom, pelo fato de morar em favela, acredito que minhas maiores dificuldades eram nos dias em que eu tinha que treinar, e na favela estava tendo operação ou, alguma troca de tiro! Além de apenas me preocupar com a distância , que teria que percorrer a Pé . Por não ter dinheiro todos os dias com estes outro né”(sic)
- Rebecca Lima
Atleta vinda da ONG Luta Pela Paz, na Nova Holanda. Medalhista de prata no Continental Juvenil (2018), e a primeira brasileira medalhista mundial juvenil (2018, na Hungria). Estreou no brasileiro de 2019 na elite. Sua categoria é a Leve (60 kg).
ANF: Rebecca, como é ter vindo da favela, ter as dificuldades, e ser a primeira brasileira medalhista mundial juvenil?
“Então, não foi nada fácil, e quando comecei nem sabia da grandiosidade disso tudo. E nunca treinava pensando nesse título, cada luta era única. Pra ter noção, não sabia do título até ter ganho a luta que me concedera o mesmo. Não pensava no final porque os primeiros passos que eram o mais difíceis. Em cada ano que se passava de preparação eu tinha obstáculos diferentes e maiores, como: Escola longe de casa em período integral, o que me sobrava 50% de energia e tempo do dia para treinar.
Depois: Escola de manhã, curso de tarde, e a mesma coisa dos 50% para treinar. Depois: Escola de manhã, treino de tarde e noite, curso pós o último treino, ou seja, eu sempre tinha que me dividir, e gerava um cansaço muito maior do que físico.
Isso quando não tínhamos imprevistos de operações, ou cancelávamos o treino, ou tínhamos o trabalho de nos deslocarmos para outros lugares, para enfim treinarmos. Caso não ficássemos presos no prédio, impossibilitando o retorno.”
ANF: Como foi seu inicio de carreira, pensou em desistir alguma vez, devido as dificuldades que o boxe brasileiro passa?
“Ajuda de custo, patrocínio, são coisas que demoraram a vir. Apesar de não ter patrocínio até hoje. Recebo ajuda de custo da seleção brasileira de boxe. Mas o caminho até lá foi totalmente custeado por meus pais e o LPP (Luta Pela Paz) em algumas ocasiões.
Carecemos muito nisso, por não sermos um esporte muito popular, não se tem procura nem interesse dos patrocinadores, as mulheres então. Enfim, dificuldades eu tenho até hoje só pra continuar no esporte.”
ANF: Quais as dificuldades para você, mulher, no boxe brasileiro?
“Se eu não quisesse muito, não tinha nem começado. Minha mãe nunca teria dito “porque você não faz boxe?”.
Toda vez que falo que eu faço boxe, as pessoas repetem minha resposta incrédulas, ” você faz algum esporte?”, “sim, boxe”,” boxe?!”, “bora fulano, Rebeca tá batendo mais forte que você”, “Bate igual homem”.
Fui ser notada dentro da academia anos depois q entrei, onde via meninos da minha idade já competindo campeonatos infantis. Não é um problema da minha academia, é cultural. Temos poucas meninas. Dependendo da categoria não temos nem o suficiente pra uma competição q não seja luta marcada. Isso porque só começaram depois q cresceram, e desenvolveram gostos próprios.”
- Wanderson Oliveira
Vindo da Nova Holanda, é o terceiro colocado no ranking brasileiro na categoria Meio Médio Ligeiro (63 kg). E o melhor brasileiro ranqueado pela AIBA (Associação Internacional de Boxe Amador), estando em 20° lugar. E será um dos atletas do boxe no Panamericano de Lima, no Peru.
ANF: Qual conselho que você daria a juventude da favela, como você. E que querem ser campeões na vida?
“Por mais difícil que esteja, continuem batalhando. Não só no esporte, mas na vida. Sempre siga em frente, acredite em seu potencial. Não deixa nada te desanimar, nada te desamparar e o mais importante: Sempre vai ter pessoas querendo desanimar você, falando que você não é capaz, que vai tirar sarro, que não vai além e não vai ter sucesso. Não pode dar ouvidos a essas pessoas, tem que usar isso de forma boa., Como um incentivo, se sentir mais animado. E para a molecada da favela dou um conselho: Sejam mais fortes que tudo, só de nascer onde nó nascemos, mostra que somos bem fortes para continuar nessa batalha.”
Esses atletas, assim como outros de vários esportes, e de várias localidades, vem para ter um futuro melhor,e mostrar que quem vem de baixo, pode sim conquistar a glória, subir nos lugares mais altos. E viram exemplo para muita gente, que tenta, a cada dia, ter um futuro melhor. Esses atletas já são verdadeiros campeões.