Segundo pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) e Embrapa Cerrados, divulgada na última sexta-feira (23) na “Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente”, 29% dos produtores citam a falta de financiamento como o principal obstáculo à adoção dessa produção. 42% dos agricultores não buscaram crédito rural, e 50% consideram o processo de obtenção de crédito  excessivamente burocrático.

Linhas de crédito para produção de alimentos orgânicos têm baixa adesão entre agricultores familiares, revelando falhas nas políticas públicas em atender as necessidades do setor. Segundo pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) e Embrapa Cerrados, divulgada nesta sexta-feira (23) na “Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente”, 29% dos produtores citam a falta de financiamento como o principal obstáculo à adoção dessa produção. Apesar disso, 42% dos agricultores não buscaram crédito rural, e 50% consideram o processo de obtenção de crédito excessivamente burocrático.

O estudo buscou entender as razões do baixo acesso dos produtores familiares às Linhas Verdes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), destinadas à produção orgânica. A pesquisa, realizada com 2.325 produtores do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), através de um questionário enviado via WhatsApp, revelou uma grande discrepância entre as políticas de crédito oferecidas e as necessidades reais dos pequenos produtores.

Produtos orgânicos são cultivados sem agrotóxicos ou produtos químicos sintéticos. A produção envolve o uso de adubos naturais e, se necessário, defensivos biológicos para controlar pragas e doenças.

Dos que disseram não buscar o crédito, metade citou as dificuldades do processo como o principal motivo, e 38% deles apontaram para as características das linhas disponíveis como o maior entrave. “É crucial que haja uma simplificação no processo, assistência técnica especializada e maior divulgação dos programas disponíveis”, diz Ariel Luiz de Sales Gomes, um dos autores do estudo.

Para o pesquisador, os resultados da pesquisa desafiam a ideia de que só a disponibilidade de crédito é suficiente para promover o desenvolvimento do setor “Mostramos que é necessário um enfoque mais integrado, que considere também o apoio técnico e a disseminação de informações”, defende. 

Os pesquisadores planejam realizar estudos em diversas regiões do Brasil para avaliar a aplicação prática das políticas de crédito, além de desenvolver propostas para aprimorar os programas. A intenção é adotar uma abordagem  que considere não apenas os aspectos econômicos, mas também as particularidades sociais e culturais dos agricultores familiares de cada região. “Só assim conseguiremos promover um desenvolvimento rural mais justo e sustentável”, conclui Gomes.

A baixa adesão é confirmada pelo pequeno número de contratos firmados em estados com grande número de produtores. Dados do Banco Central indicam que, no Distrito Federal e em Roraima, não há nenhuma operação de crédito contratada, apesar de esses estados contarem com 261 e 41 produtores orgânicos registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, respectivamente.

Os entrevistados representam 8,6% do total de produtores de orgânicos registrados, dos quais 76% são agricultores familiares e 65% financiam suas atividades com recursos próprios. Entre aqueles que conseguiram crédito rural por meio de diferentes canais, como bancos privados, cooperativas de crédito ou bancos públicos, 26% contrataram linhas específicas para orgânicos, enquanto 74% optaram por outras modalidades de crédito. Apenas um produtor relatou o uso de recursos do Pronaf. Entre os que escolheram linhas de crédito rural não específicas para produção orgânica, as razões foram desconhecimento da opção (36%), percepção de maior burocracia (18%) e falta de assistência técnica para elaborar a proposta (16%).

Demanda

O Brasil é um dos principais mercados agrícolas do mundo,  incluindo produtos orgânicos. Apesar disso, a oferta ainda se mostra insuficiente para a demanda, que só cresce. Segundo pesquisa, há falhas no levantamento de dados referente ao cultivo de produtos orgânicos no país.

O trabalho, feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), traçou um panorama sobre a produção e a demanda de orgânicos no Brasil, a partir de dados do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e dados de consumo de pesquisas da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e do  Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Os dados do  Ministério da Agricultura apontam a existência de 953 certificações de orgânicos para produtos importados, originários de 23 países. Esses produtos incluem desde espécies características de outras regiões, como amaranto, quinoa, damasco e azeite de oliva, até alimentos também produzidos em território nacional, como amendoim, arroz, soja, tomate, milho e feijão.

Entre 2003 e 2017, as vendas de produtos orgânicos quadruplicaram, experimentando um crescimento adicional de 30% em 2020, alcançando um montante de aproximadamente R$ 5,8 bilhões, de acordo com uma pesquisa. O mercado brasileiro, entretanto, depende significativamente de importações, indicando que a produção local de orgânicos não atende totalmente à demanda.