Uma transmissão de live na cidade potiguar de Caicó arrecadou R$ 12 mil, meia tonelada de alimentos e produtos de higiene e 108 cestas básicas, mostrando que, no anonimato, também pode existir muita solidariedade. A responsável, Lilia Saldanha, percebeu que está no caminho certo e vai usar seu talento em próximas lives.
Lília, cujo nome de registro é Ariana Maia Saldanha, de 46 anos, é dona do Cabaré Sol e Lua e, segundo o repórter Roberto de Oliveira, que assina matéria na Folha de S. Paulo de domingo, 7, “percebeu que tinha de fazer alguma coisa para salvar o negócio e as meninas. Ela apostou na solidariedade e pôs no ar uma live que, direcionada aos frequentadores da casa, evocava a memória de momentos mais felizes” neste tempo de isolamento social.
No vídeo, Lilia Saldanha vai direto ao ponto: “é hora de ajudar as meninas que o novo coronavírus tirou da cena”. Enquanto fala sem rodeios das dificuldades, “uma morena voluptuosa, de trejeitos sensuais, faz poses, caras e bocas. É a Michelle (nome artístico) que se enrosca no poste num momento pole dance ao som do hit ‘Amor de rapariga’: ‘Amor de rapariga não vinga, não/ não tem sentimento/ não tem coração'”, escreve Roberto, visivelmente tocado pela iniciativa.
A repercussão do vídeo, de uma hora 34 minutos de duração, transmitido na noite de 3 de maio no canal da empresária no YouTube, com mais de 164 mil visualizações, surpreendeu Lilia Saldanha.
A produção foi além do Nordeste e conquistou a simpatia até mesmo de um juiz de Brasília, provando que amor de rapariga pode, sim, tocar o coração. Popularidade e solidariedade, de braços dados, amealharam doações suficientes para amparar as profissionais e também um lar de idosos e uma das igrejas locais, aos quais Lilia destinou uma parte dos recursos.
A empresária Ana Claudia Vale, 30, com quem Lilia é casada há seis anos, ajudou a viabilizar o projeto. “Em tempos tão difíceis, a live serviu para mostrar solidariedade e compaixão.”
Pela primeira vez em 16 anos, o Cabaré Sol e Lua interrompeu suas atividades. Ali chegaram a trabalhar simultaneamente 25 garotas, que cobravam de R$ 150 (para fazer um strip) a R$ 300 (para ir às vias de fato).
“Cabaré que eu não mando, eu fecho”, avisa Lilia. “As meninas tiveram que voltar para suas cidades no começo de abril”, lembra. “Muitas não tinham o que comer, me ligavam pedindo ajuda.”
Dona do prostíbulo, Lilia também é vereadora pelo PP, que faz parte do centrão, bloco de partidos que apoia o governo em troca de cargos e verbas do Executivo. Ela ainda preside a Câmara de São José do Brejo do Cruz, cidade paraibana a cerca de 70 km de Caicó.
Na transmissão ao vivo, Lilia aparece sentada, anunciando marcas de “patrocinadores”, como a Granja Caicó, o Bar do Macaco e o Armazém Paulino, que doaram cachaça, álcool em gel, ovos, pizza, pastel, tábua de frios, entre vários outros itens.
(Com informações da Folha de S. Paulo)