A liberdade de ir e vir está ameaçada

Violência assusta estudantes, comerciantes e moradores do Curuzu.

Crédito: Jadson Nascimento. Rua direta do Curuzu

O local mais famoso do bairro mais negro do Brasil: a Liberdade, está praticamente
esquecido quando o assunto é segurança. Popularmente famoso pelos seus becos, vielas e pela sua famosa ladeira de mesmo nome, citada até na canção “o mais belo dos belos”, do maior e mais tradicional bloco Afro do carnaval de Salvador, o Ilê Aiyê, que este ano completou 45 anos de história, está esquecido quando o assunto é segurança.

O Bairro conta com diversos estabelecimentos como: salões de beleza, mercearias, padarias, pastelarias, lava jato, além de escolas e posto de saúde, mas passa por situações complicadas, que têm gerado um grande desconforto aos habitantes e também para quem visita ou transita na região.

Quando questionados sobre como se sentem em relação ao policiamento e segurança dos seus estabelecimentos, as opiniões dos comerciantes são sempre as mesmas: “A segurança aqui é praticamente zero. Quem nos protege somos nós mesmos. A gente faz a nossa própria segurança, é um tomando conta do outro.

Não se vê policiamento por aqui, estamos praticamente largados”, diz um. Ou então “às vezes, fica até complicado receber certos clientes aqui e isso prejudica, não
só o comércio, mas a tradição do local” lamenta outro, que não quis ser identificado.

Alunos da Escola Estadual, Tereza Conceição Menezes, que funciona nos três turnos: matutino, vespertino e noturno, dizem que não existe ronda no bairro e se sentem inseguros, pois também não tem nenhum módulo policial próximo. Os estudantes alegam que o local, até por ser uma escola pública, com grande fluxo de alunos, deveria ter, ao menos, rondas frequentes, principalmente no horário noturno, que é mais perigoso.

Moradores, comerciantes e estudantes fazem apelo para serem notados pois acreditam que é pelo fato de estarem em um bairro pobre, como Liberdade/ Curuzu, que eles não têm a atenção devida dos poderes públicos. Eles dizem que “não são tratados como gente, mesmo pagando os impostos em dia”.

A população reclama que o básico, que é cuidar da comunidade e do povo, não está sendo feito pelos órgãos responsáveis. O esquecimento das autoridades, segundo eles, é maior pelo fato de morarem em num bairro marginalizado pelas grandes mídias.

Eles pedem mais humanidade com o povo e mais atenção e proteção dos gestores públicos, pois afirmam que, no momento, só podem contar com a segurança de Deus, já que na dos homens, nem acreditam mais.

Quem passa pelo tão tradicional Curuzu a noite, em vez de ouvir as histórias do bairro, “escuta” o silêncio e a insegurança
que predominam no local, mesmo sendo a hora em que muitos estão voltando do trabalho, da faculdade ou da escola.
“É uma situação assustadora, não só para pedestres, mas também para quem usa veículos, pois não existe qualquer policiamento, principalmente depois das 22h00, quando, devido ao horário, o fluxo de pessoas é menor. Segundo os moradores, “o único barulho que se escuta é o do vento”.

O Curuzu precisa de mais segurança, pois a marginalidade cresce a cada dia em toda cidade, mas se potencializa nos bairros periféricos, como Curuzu/Liberdade,
pela falta de policiamento.

Segundo relato dos moradores mais antigos do bairro “no Curuzu só tem policiamento  quando tem festa no Ilê Aiyê”. Eles ratificam que o local precisa de uma base militar e afirmam, inclusive, que existe um espaço disponível pra isso, já que fecharam uma escola pública no bairro recentemente.

Segundo os moradores, o grito pela segurança é o mais urgente, mas também faltam outras coisas, como saneamento básico “é péssimo, o nosso bairro é muito mal administrado”. A população diz compreender que, infelizmente, o governo não tem homens suficientes para fazer ronda em todos os lugares, mas diz que é preciso parar de esconder o que é errado, pois, por conta da má administração, os moradores do Curuzu, principalmente os que moram nas vielas, estão sendo obrigados a esconder as suas próprias coisas, pois ficam com medo e se sentem ameaçados.

*Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, edição Abril de 2019