Caetano Veloso canta um louvor e a reação de evangélicos e progressistas

Fonte: Instagram do Caetano Veloso

A música transcende qualquer preconceito.

Recentemente, Caetano Veloso regravou, juntamente com Kleber Lucas, um dos maiores sucessos da música gospel: ‘Deus cuida de mim’. Uma música com uma mensagem universal, de melodia e harmonia marcante que não cansamos de ouvir. No entanto, isso tem sido motivo de opiniões contrárias, pois de um lado temos alguns evangélicos que acham que Deus é o seu patrimônio. E, sendo assim, um ateu (ou pós-ateu) não deveria cantar uma música sagrada. Isso me faz lembrar o dualismo neoplatônico, em que se divide o mundo em igreja e mundo, ou arte sacra e arte profana. Parece termos voltado à idade média em pleno século 21 .

Falta a percepção a estes críticos de que Deus está acima de qualquer religião. Ele não faz parte da patente e nem é franqueado por nenhuma instituição. Obviamente, existem pessoas sérias em todo lugar e isto não pode deixar de ser dito.

Também temos, do outro lado, um certo nicho ensimesmado de progressistas fãs de Caetano que acham que o mau no mundo advém da religião (vista exclusivamente como instrumento de dominação e alienação). Estes setores mais ortodoxos deturpam o Marxismo e se veem como portadores das Luzes da Razão contra o “ímpeto primitivo da Religião”. – “como assim Caetano se rebaixou a tal ponto de cantar com um pastor?”. Pensam os que não enxergam nenhum tipo de ponte entre estes mundos. “Envelheceu mal”, criticou um internauta no Instagram do cantor.

Da mesma forma, acham que todos os evangélicos pensam de forma homogênea e se dobram a Bolsonaro, ignorando assim os mais de 17 milhões de protestantes que disseram “não” ao atual mandatário.

Mas voltando à dobradinha Caetano – Kleber Lucas, me encanta a busca do Criador por um coração que o busque. Deus é um Deus de amor. Não cabe o ódio na experiência com o Totalmente Outro (Karl Barth). Todo ser humano nasce com um sentido ôntico na busca por seu Criador (Karl Ranher). É uma busca que se semeia no chão da vida.

A Tropicália, movimento que Caetano fundou, juntamente com Gal Costa, Maria Betânia, Gilberto Gil e Tom Zé, convida para sentarmos à mesa e aprendermos com o outro. Esse também é o espaço da espiritualidade. Um espaço que transcende. Certa vez, dando uma aula sobre Teo-poética (matéria que estuda Deus nas Artes), um aluno me perguntou: Professor, quem não comunga da nossa fé, pode fazer um louvor chegar até Deus? A sala repleta de alunos que olharam para mim, num silêncio sepulcral:
– Sim. Todo dom perfeito vem de Deus. – Ele que nos dá o dom como presente e recebe, diz o autor de Tiago. Aliás, Deus não está aprisionado nas cercas do mundo evangélico. “O vento sopra onde quer”, diz o autor de João.

O aluno ficou atônito com a minha resposta. Talvez, mais tarde, ele entenderia que Deus é maior do que qualquer ideologia e ‘achismos’ preconceituosos.

Canta Caetano! Afinal, tudo que respire louve ao Senhor, disse um outro poeta.

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