Campanha pede o fim do Caveirão e da violência policial nas favelas

Créditos: Mauri Costa / RACC

Ativistas contra a violência nas favelas lançaram nesta quarta-feira, 06, a campanha “Caveirão não! Favelas pela vida e contra as operações”. A iniciativa promove uma série de eventos que buscam chamar atenção para os efeitos negativos da entrada do Caveirão, o blindado da Polícia Militar, e do excesso de violência por parte dos agentes do Estado nas favelas e periferias do Rio de Janeiro.

Para os moradores das favelas, a entrada do Caveirão na comunidade é símbolo de barbárie e morte. O uso do carro blindado denota uma situação de intensa troca de tiros. No meio do fogo cruzado, mulheres, crianças, trabalhadores e estudantes podem acabar na linha de tiro, além dos chamados autos de resistência e os crimes forjados frequentemente denunciados.

A passagem do Caveirão pelas vielas estreitas também causa prejuízos. Não são raros os casos de moradores que têm carros e motos destruídos pela passagem do veículo pelas ruas normalmente estreitas. As operações frequentes, que não levam em consideração o cotidiano das favelas, também causam reflexos em escolas, postos de saúde e o comércio, que acabam fechados.

Créditos: Mauri Costa / RACC
Créditos: Mauri Costa / RACC

Pensando em ações que reduzissem as violações cometidas pelo Estado, movimentos sociais, organizações de direitos humanos, pesquisadores e ativistas se reuniram para construir a campanha “Caveirão não! Favelas pela vida e contra as operações”. A ação é  inspirada na campanha contra o Caveirão, organizada em 2006 pela Anistia Internacional, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Justiça Global e Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis. Na época, mais de 20 países aderiram ao movimento.

Familiares de vitimas de violência policial e representantes de organizações de direitos humanos participaram do lançamento da campanha na Casa Pública. Estiveram presentes Uidson Alves Ferreira, irmão da menina Maria Eduarda, morta aos 13 anos dentro de uma escola municipal em Costa Barros, Dalva Maria Correia da Silva, da Rede de Comunidade e Movimentos contra a Violência e mãe de um dos três meninos mortos em uma chacina no Morro do Borel, em 2003.

Também participaram Glaucia Marinho, da ONG Justiça Global, Pedro Charbel, coordenador latino-americano do Comitê Nacional Palestino do Movimento de Boicote, Desenvolvimento e Sanções (BDS), e Debora Silva, do Movimento Mães de Maio de São Paulo. “Precisamos discutir a pena de morte dentro das favelas”, afirmou Debora durante a coletiva.

Duas ações estão programadas para a campanha nesta semana. Na quinta-feira, 07, às 14 h, acontece o ato “Acorda MP – por memória, justiça e contra o caveirão e as operações policiais”, em frente à sede do Ministério Público do Rio. No sábado, o Cine-Debate Dona Júlia apresenta no Centro de Teatro do Oprimido os filmes Luto como mãe e Nossos mortos têm voz, que tratam do sofrimento das famílias das vítimas da violência policial, a partir das 19 h.

Confira a programação completa no evento do Facebook.

 

O Estado que mata: depoimento de Dalva Maria Correia da Silva, mãe de vítima da violência

“A minha luta começou dia 16 de abril de 2003, quando meu filho foi executado pelo Estado e criminalizado por ser pobre e negro e morar em uma favela. Comecei a luta pela memória do meu filho, por justiça e para que não isso viesse a acontecer com outras famílias.

A gente sabe que quem mata é o Estado, com o preconceito e o racismo institucional. Acham que não temos direito de viver. A nossa campanha é pra mostrar que vidas negras e faveladas importam. Primeiro, o Estado mata nossos filhos com fuzil, depois nos mata pela injustiça e impunidade.”

Dalva Maria Correia da Silva é representante da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência e mãe de um jovem morto em uma chacina no Morro do Borel há 14 anos.