Paraibano se destaca com trabalho social em comunidades de João Pessoa e quer ‘formar cidadãos’ através da Capoeira
Ele é conhecido como “Ligeirinho” e o apelido, obviamente, deve se referir ao seu jeito rápido de agir no cotidiano. O melhor é que Antônio Guedes da Silva Junior, o “Ligeirinho”, canaliza sua rápida energia para a realizações de projetos sociais, e em particular, do projeto “Capoeira”, que mantém na associação comunitária do bairro dos Bancários, Zona Sul de João Pessoa, com crianças e adolescentes carentes.
Ligeirinho, 38 anos, é paraibano e se dedica a ensinar o jogo da capoeira como forma de praticar a cidadania em bairros da capital paraibana. Ele iniciou o trabalho sozinho, mas foi ganhando adeptos, mostrando um trabalho sério e comprometido com o social, até que criou uma rede de capoeiristas que ministram oficinas e “aulões” em vários bairros da cidade, tudo sob sua coordenação e seu olhar atento.
Em julho deste ano, “Ligeirinho” fez história ao se tornar o atual vice-campeão mundial de Capoeira em um evento realizado em Niterói (RJ). O Festival Internacional de Capoeira foi realizado pelo Grupo Capoeira Brasil, considerado a maior organização do jogo no mundo e presente em mais de 30 países.
Mais de 200 participantes jogaram capoeira no evento e o paraibano “Ligeirinho” ficou em segundo lugar na computação geral dos pontos. O primeiro lugar ficou com o capoeirista Saracuru, que dirige o Grupo Capoeira Brasil nos Estados Unidos.
A conquista desse título não foi à toa. “Ligeirinho” é daquelas pessoas que acredita no que faz e se preocupa em passar adiante sua técnica, sobretudo para crianças e adolescentes de bairros da periferia. “Nosso trabalho é uma semente que estamos plantando, ao mesmo tempo em que ensinamos estamos aprendendo a cada dia”, ressalta.
Semente que vem sendo plantada por “Ligeirinho” há 20 anos, quando o capoeirista iniciou um trabalho silencioso em uma escola municipal no bairro de Mangabeira, o mais populoso de João Pessoa, no ano de 1999.
“A gente trabalhava em um espaço cedido pela escola para a realização das aulas de capoeira”. A partir daí fomos formando novos integrantes, que hoje são professores graduados e continuam multiplicando o projeto em vários bairros e comunidades de João Pessoa”, lembra.
A multiplicação deu tão certo que, atualmente, o projeto iniciado por “Ligeirinho” faz parte do Grupo Capoeira Brasil, que trabalha a capoeira em suas diversas vertentes.
“Além desse trabalho de formação de professores ou instrutores de novos grupos, meu foco principal está voltado para o trabalho com crianças e adolescentes na associação comunitária dos Bancários, onde dou aula às segundas, quartas e sextas e tem um aluno meu, o “Tiririca”, que já foi formado professor, e fica com as turmas das terças e quintas”, disse.
A Associação dos Bancários, que fica localizada na Praça da Paz, é o ponto central do projeto, mas “Ligeirinho” ressalta que a abrangência vai muito além. As aulas ou jogos de capoeira são ministrados por alunos formados por ele em outros bairros da periferia de João Pessoa, como Mandacaru, Grotão, Penha e em cidades próximas como Bayeux, Santa Rita e em Campina Grande.
“Formar cidadãos através da capoeira. Esse é o foco principal do nosso trabalho. Nesse sentido temos o trabalho social nas comunidades, onde a criança e adolescente deve estar matriculados na escola e com bom desempenho para participarem das atividades da capoeira”.
Ao todo, são 15 professores multiplicadores e cerca de 500 alunos espalhados por diversos bairros, inclusive crianças e adolescentes em situação de risco.
“Esse bom desempenho não inclui só as notas, mas o bom comportamento na escola e sua relação com os colegas e professores. Independente disso, temos também um trabalho com aulas particulares, no qual alunos que podem, pagam mensalidade, o que nos ajuda a manter o projeto e seguir adiante”, conclui.
* Matéria publicada no Jornal A Voz da Favela, edição de novembro 2019