Carnaval e a crítica social

Desfile da Mangueira - Sapucaí 2020. Imagem: Wellington Melo/ANF.

Há alguns anos muitas escolas de samba têm produzidos críticas à realidade brasileira, neste ano não foi diferente: cerca da metade das escolas de samba do grupo especial de algum modo olharam para os rumos do Brasil e sinalizaram que não estamos bem das pernas e que precisamos reagir, buscar melhoras para a nossa terra.

Vivemos num país de passado escravocrata e que na atualidade mais busca esconder a sua história de violência contra quase doze milhões de africanas, africanos sequestrados de suas terras natal e postos como escravizados (sem falar dos indígenas), do que tenta superar o racismo que caminhou de mãos dadas com a escravidão.

Com isso não quero dizer que temos orgulho do que aqui ocorreu, ao contrário, foi vergonhoso o período da escravidão; porém precisamos entender que o saldo negativo dele age todos os dias contra as negras e negros brasileiras/os. E o resultado é visto a olho nu, pois somos o país onde mais se morre de forma violenta.

A escola de samba Estação Primeira de Mangueira mostrou um Jesus negro, que dada a realidade do Oriente Médio, não é possível que tenha sido brancos de olhos azuis. Quis aproximar o Jesus Cristo que ama a humanidade da realidade brasileir entre na e entre nós precisa proteger as crianças negras, que pelo simples fato de circularem de cabelo pintado de louro são vistos como bandidos.

A Viradouro também abordou as mulheres lavadeiras pretas que, com suor, conquistaram a sua alforria e são fontes de amor. Destacou a resistência da mulher negra que cuida e protege os seus. Um enredo lindo, forte mostrando como a sociedade brasileira é desigual, com o racismo como fundamento.

Acabou o carnaval, mas a crítica social permanece e precisamos continuar denunciando todas as atrocidades feitas pelos religiosos intolerantes, racistas, LGBTfóbicos, machistas etc. Se querem ser cristãos, precisam aprender a lição que Cristo nos ensinou: amar e respeitar ao próximo como a si mesmo.