Não pensem que esse é um texto pra detonar o carnaval. Muito pelo ao contrário. Esse que vos escreve é um grande amante da festa brasileira mais popular que existe. Como todo folião que se preze, me joguei nos braços do Zé Pereira e não esperei nem a chegada da data oficial. Tudo começou com o belíssimo cortejo do Céu na Terra no último sábado, em Santa Teresa, um bloco tradicional que homenageia a riqueza da música e cultura brasileira. Todos os anos, uma grande personalidade é homenageada. Este ano, o homenageado foi o artesão e morador ilustre do bairro Getúlio Damado, famoso principalmente por seus bondes de brinquedos. Num cortejo de aproximadamente três horas, o bloco brilhou e emocionou tantos os músicos como os foliões que tiveram a felicidade de acompanhar o cortejo.
Ainda no sábado, o Tambores de Olokun, bloco caçula do maracatu da Cidade Maravilhosa, também realizou um lindo e marcante desfile pelo Aterro do Flamengo. Os mais de cem integrantes do bloco, entre músicos, catitas e corte, fizeram bonito para as milhares de pessoas que foram conferir o quinto ano do bloco. O fundador e criador Alexandre Garnizé era a própria felicidade em pessoa. Foi muito marcante ver tantas pessoas se emocionando e chorando com a nossa passagem. Sei que sou suspeito pra falar, já que tive a missão de encarnar o próprio Olokun no desfile – missão das mais difíceis de toda a minha vida.
Porém, quem é da rua tem que guardar energia, afinal, domingo de pré carnaval foi dia do incrível cortejo do Cordão do Boitatá, que logo cedo atravessou as ruas do centro do Rio. Por causa da linha do VLT que cruza a Praça XV, o bloco há anos não tem saído do seu ponto tradicional, que ficava ali do lado, na Rua do Mercado. Mas isso não impediu que os desfiles fossem menos maravilhosos nos últimos tempos. Esse ano, a saída foi da Praça Cruz Vermelha. Foi linda a procissão de foliões, estandartes, pernas de pau e a tradicional ala de baianas. Até Michael Jackson e Amy Winehouse apareceram como mestre sala e porta bandeiras do bloco e se acabaram na folia. A chegada foi apoteótica à Praça Tiradentes. Ali quase do lado, o Fogo & Paixão, bloco mais brega da cidade, abrigava outras centenas de pessoas ansiosas pelos sucessos do rei do romantismo Wando e outros cantores da mesma fina estirpe. Foi simplesmente arrebatador.
Na Praça Mauá, mais precisamente no Largo de São Francisco da Prainha, o Escravos da Mauá fazia a festa dos foliões mais tradicionais, que gostam mesmo é do bom e velho samba. Na comemoração de seus 25 anos de vida, os milhares de foliões presentes foram para casa de alma lavada (alma e roupas lavadas, já que um mangueirão refrescou a galera no Cais do Valongo).
O meu grande destaque de domingo foi um bloco novo, mas que idealizado por um músico super talentoso e persistente lá das terras do Pará. Silvan Galvão e o Carimbloco nos levou a uma viagem aos ritmos amazônicos. Com muito carimbó, lambada, siriá e acompanhado de belos dançarinos e pernas de pau, o fim de tarde no Aterro do Flamengo nesse pré carnaval certamente um dos mais sensacionais da cidade.
Carnaval pra quem? Carnaval para todos nós que vivemos e amamos essa cidade!