Nesta segunda-feira, 23, as portas da unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre, onde João Alberto de Freitas, o João Beto, foi espancado, asfixiado e morto por dois seguranças brancos, voltaram a abrir. A loja, que estava fechada desde o último dia 20, reabriu às 8h desta segunda. Um funcionária disse ao G1 RS que o sentimento da volta, depois desse assassinato é “bem difícil”.
O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre. Os homens que aparecem nas imagens, espancando João Alberto, são o policial militar Giovani Gaspar da Silva, de 24 anos e Magno Braz Borges, 30 anos, segurança da loja. Giovani foi levado para um presídio militar e Magno está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.
Durante o final de semana diversas manifestações aconteceram pedindo justiça pela morte de mais um homem negro. Além de justiça, os atos pediam respeito e relembravam que “Vidas Negras Importam”. Nas redes sociais diversos manifestantes relembraram os diversos casos de descaso, racismo e desrespeito aos direitos trabalhistas de unidades do Carrefour, como:
- em 2009, Januário Alves de Santana, então com 39 anos, vigia e técnico em eletrônica, foi agredido por seguranças no estacionamento do Carrefour de Osasco, por ter sido “confundido com ladrão” e ter “roubado” o próprio carro;
- em dezembro de 2017, grevistas que reivindicavam benefício de remuneração por trabalharem feriados, foram demitidos;
- em 2018, seguranças, sob ordem do dono do mercado na filial Osasco, envenenaram e espancaram um cachorro, que se encontrava no estacionamento, até a morte;
- em 2018, na filial de São Bernardo do Campo, São Paulo, o deficiente físico e negro, Luís Carlos Gomes, foi espancado por ter aberto um refrigerante dentro da loja. Ele teve fraturas múltiplas e sequelas na cirurgia;
- em 2019, o Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região entrou com liminar, concedida pela Justiça do Trabalho de São Paulo, contra condições degradantes de trabalho dos funcionários de telemarketing da rede;
- em agosto de 2020, em uma unidade de Recife, o promotor de vendas da loja, Moisés dos Santos, de 53 anos, sofreu uma parada cardíaca vindo a óbito e o corpo permaneceu coberto sob guarda-sóis e caixas no interior do estabelecimento, das 8h às 12h para que o expediente seguisse ininterrupto.
Outro caso foi relembrado por Cristiana Cordeiro, Titular da Vara Criminal de Mesquita, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, onde uma mulher dependente química, negra e lésbica, foi espancada e estuprada por funcionários do Carrefour há três anos após ter furtado alimentos.
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