Representantes religiosos, membros de projetos sociais e lideranças da sociedade civil, unidos em torno do combate à fome e à promoção de justiça alimentar, lançaram uma Carta Manifesto para Construção do Espaço Político e Social de Promoção da Segurança Alimentar e Nutricional e Mitigação da Fome em Salvador. O evento ocorreu na última quinta-feira, 5, na sede da ONG Bahia Street, no bairro Dois de Julho.

O documento reivindica políticas públicas voltadas para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada na cidade, e aborda a necessidade urgente de discutir e enfrentar o problema da fome e da insegurança alimentar na cidade.

Movimentos sociais e organizações da sociedade civil soteropolitana convocam candidatos a cargos públicos para um compromisso com políticas que garantam o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Edgar Moura – coordenador nacional da Comissão de Combate à Fome e Segurança Alimentar, destaca como se deu a construção da carta: “Estamos envolvidos no combate à fome em Salvador há mais de dez anos, em parceria com a Ação da Cidadania e outras organizações. Eu, como membro de Terreiro, junto com outras entidades, decidimos que queríamos uma eleição diferente, com candidatos comprometidos com causas sociais. Pensamos na questão da fome e resolvemos criar uma carta, com apoio de pessoas como a professora Sandra Sales, da UFBA. A carta foi desenvolvida em atividades na UNEB e hoje está sendo lançada para o público”.

Edgar relatou que a ideia principal é que todos os membros presentes levem a carta para apresentar aos candidatos a vereador e prefeito da cidade de Salvador para que eles possam assinar e se comprometer. “Eu sei que assinar um documento não quer dizer nada, mas a gente passa ter um um ponto avaliação! Lembrando que aquele que assinou ganhou e não cumpriu o combinado nós vamos estar fazendo denúncias”, finaliza.

A fundadora da ONG Bahia Strret, Rita Conceição que há 28 anos trabalha com o povo negro da cidade de Salvador, em especial as mulheres, relata a importância de investimento em educação para a melhoria da construção social.“ A gente trabalha diretamente com a questão educacional, porque através da educação a gente acredita que a transformação social acontece porque conhecimento é poder. Para além dessa realidade a gente percebe como o nosso público que são meninas a questão da necessidade da fome. E a fome ela não está só delimitada a questão necessidade individual orgânica. A gente tem um processo de fome crônica que é a fome da educação,a fome do conhecimento, a fome da saúde, a fome da moradia e principalmente a fome do corpo humano”, relatou.

Rita destaca a importância da construção da Carta, pois para ela são medidas de chamada aos poderes públicos, porque o índice de pessoas que estão passando fome “é inadmissível o ser humano numa cidade, num país que faz exportação de alimentos,e ver pessoas morrendo de fome”, enfatiza. Ela destaca que quando entra nessa proposta de comida no prato, porque já viu crianças chegarem na ONG desmaiando de fome. “Tem gente que está morrendo de fome e não tem coragem nem de pedir um prato de comida porque está tão deprimido, não tem dignidade, não tem respeito e termina até morrendo por falta de alimentação”, finaliza.

Fernando Carvalho -Babalorixá e Vice presidente da Fundação Gregório de Matos, esteve presente no evento e relatou pontos importantes da proposta dessa carta. “Nós estamos comprometidos com a carta de ação social para poder lutar contra a fome, contra intolerância religiosa e nós estamos tentando construir uma fala poderosa para poder chegar até todos os líderes como vereadores, deputados e prefeitos. Que nossa voz não seja calada, que a gente seja ouvido com respeito e que possamos ser atendidos. Que a gente possa ser visto e espero que todos esses líderes que estejam assinando essa carta se comprometam com o nosso projeto”, enfatiza Fernando.

Para Manuela Ribeiro,- Associação de Moradores de Brotas – o evento de lançamento foi um momento de trocas onde todos puderam contribuir no comprometimento de levar a carta aos candidatos. “O momento de hoje é muito no sentido da gente unir todas as organizações que lutam mesmo pelo combate à fome. Essa carta é justamente para enfatizar a importância de tentar contribuir nesse processo porque hoje a nossa população vive essa questão da vulnerabilidade, principalmente nas favelas. Vamos levar isso pra Câmara de Vereadores e que a gente possa de certo modo contribuir para que a gente consiga diminuir a fome “, destaca Manuela.

Morsa Santos coordenador do Instituto Kennedy que é uma organização de combate ao racismo no município de Salvador e presidente do Conselho de Segurança Alimentar no município, esteve presente no evento e apontou a importância da carta para a comunidade. “Precisamos garantir que os candidatos assumam esse compromisso com a pauta da segurança alimentar no município, que as políticas de segurança alimentar possam contribuir para a erradicação da fome e da pobreza no município. Essa é uma iniciativa do comitê a Parada é Fome que reúne diversas organizações na cidade de Salvador e também no interior do estado. Essa pauta começa na pandemia com estratégia de levar comida a quem está mais precisando. Levar comida para quem está em vulnerabilidade”, relatou.

O manifesto destaca que, apesar de ser garantido pela Constituição, o acesso à alimentação em Salvador está comprometido, com um histórico de desigualdades profundas. Dados mostram que, mesmo antes da pandemia de COVID-19, mais de 40% dos lares já sofriam com insegurança alimentar, e essa situação piorou após a crise sanitária.As propostas incluem ações como: Incentivo à agricultura familiar e hortas urbanas, Segurança hídrica para todas as regiões, Valorização da cultura alimentar urbana, Fortalecimento do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional,Apoio a populações tradicionais e campanhas educativas.

O manifesto é um chamado para que as lideranças políticas de Salvador priorizem uma agenda de segurança alimentar, combate à fome e justiça social.