A exposição “Encantadas”, da artista visual Lívia Passos, estará disponível ao público na Casa de Cultura Maputo do Alto-Maé, na Cidade de Maputo, em Moçambique. Além da exposição, a programação conta com oficinas criativas e visita guiada, nos dias 19, 20 e 23, que reúne um conjunto de 12 obras pintadas em material de reuso, resíduo hospitalar reciclável, fruto do trabalho de conscientização e boas práticas do manejo dos resíduos sólidos hospitalares conforme Legislação vigente Resolução da Diretoria Colegiada 222/18 Ministério da Saúde.

A exposição Encantadas traz em suas obras o universo sagrado das plantas domésticas, um jogo simbólico sobre as plantas, e os ritos conectados à culinária, a proteção e a cura nas relações cotidianas da artista. O vento sinuoso nas folhas de cidreira anuncia uma luz cromática envolvente de tons verdes e violeta.

Será que a cidreira é uma planta encantada? Sim, ela cura muitos males. Essa sabedoria ancestral permanece enraizada na memória coletiva. Que poderoso é saber que uma planta pode curar! A espada de São Jorge, seu aspecto vertical e pontiagudo, reforça a energia de proteção, como também a pimenteira pode murchar para liberar qualquer mau olhado.

Cidreiras, pimenteiras, pitangas, cebolinhas, coentros, hortelã grosso, as espadas de São Jorge e Costela de Adão são representadas na pintura, como elementos conectores para expansão da memória.

Depois da série de obras “Arvorecer”, uma poética ou metáfora perante a condição de tornar-se árvore, a artista coloca em cena, as plantas, em seu universo sagrado (simbólico), comunicando a relação de essência e permanência humana e vegetal. Na Mitologia que versa sobre Ossain, conta-se oralmente que o vento de Iansã soprou a grandes rajadas.

A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossaim permaneceu “senhor do segredo das folhas” de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. Ossain com sua sabedoria dá uma folha para cada Orixá, e congrega os sentidos para estabelecer significados de constância, o que mais tarde, nos cabelos trançados das suas filhas, as sementes sagradas percorreriam extensões, os além-mares, foram plantadas e adaptadas para pertencer ao outro espaço-tempo.

Lívia observa os sentidos e expressões das plantas no mais profundo, quando se vincula a Ossain, que na analogia ancestral africana, ainda conserva o “segredo” das folhas, este que perpassa até os tempos atuais e nos convoca a refletir sobre a via sagrada (seres humanos e seres vegetais), numa junção entre permanência e sobrevivência.

No nível de abstração poética e artística nota-se a coexistência de uma narrativa sensorial sobre o universo das plantas, que nos invoca num jogo anamnésico quando a artista diz: “começo a observar as plantas (domésticas), suas cores num aspecto contemplativo (decorativo), seus os sabores que enaltecem meu paladar, os aromas que invadem minha atmosfera interna e a força, quando as mesmas estão para proclamar a minha proteção e cura”.

As obras podem serem expostas penduradas em nylon Descrição das oficinas:

Oficina: Encantadas livros de Memórias, a ação educativa organizada é uma proposta de reflexão sobre: ARTE, ANCESTRALIDADE, SUSTENTABILIDADE TECER coletivamente um livro de tecido usando a mitologia do Baobá – Árvore Sagrada. O Baobá como vetor para manutenção das ancestralidades, através do despertar de memórias.

Ação gratuita, 30 vagas, para a construção de livros de tecidos usando materiais reciclados, técnicas de desenho e pintura, mesclada com muita criatividade, emoções e sonhos. A oficina ministrada pela Artista Visual Lívia Passos é uma proposta de reflexão sobre o indivíduo na coletividade. Busca evidenciar a conscientização sobre a importância da coleta seletiva, demonstrando que é possível extrair arte de ambientes muitas vezes considerados críticos, que a arte pode ser produzida por qualquer pessoa, independente do contexto, incentivando, assim, a expressão criativa e a valorização de práticas sustentáveis no dia a dia.

Através dessas oficinas, vem tecendo coletivamente pertencimento e autoestima, usando a mitologia do Baobá – Árvore Sagrada ligada à Memória, como suporte e reforço à manutenção da sua ancestralidade e dos seus. É um momento que também envolve bons papos, ludicidade e criatividade, culminando com a criação de livros em tecido – onde cada indivíduo é estimulado a contar a sua história, usando os materiais que ela recicla, junto a esse convite da criatividade, emoções e sonhos.Público-alvo: a oficina é indicada para crianças estudantes e pessoas até ou mais de 70 anos.

OBS: não pode ser misturado adultos e crianças pelo motivo de adequação da linguagem. Duração: 2h. Materiais necessários para a oficina: Livrinhos – fornecido pela artista; Papel cartonado – fornecido pela artista; Tesoura – fornecida pela Instituto; Canetas hidrocor coloridas – fornecida pela artista e Instituto, Canetas de tinta para tecido – fornecida pela artista e Instituto; Cola de silicone –fornecida pela Instituto. Número de participantes: 30 pessoas por turma Equipamentos: caixas de som que possa ser roteada; (se for possível).

É necessários dois auxiliares para oficina; O Projeto Encantadas foi aprovado pelo Edital 001/2023 de Mobilidade Cultural 2023/2024 – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Gestão do projeto Plataforma Flotar. Curadoria: Juci Reis