Castelo de Bonecas: por trás de todo castelo existe uma boa historia

Crédito: Reprodução

O Projeto Castelo de Bonecas surgiu em 2012, no intuito de trazer uma ocupação para as reeducandas mulheres privadas da liberdade, do Presídio Feminino Maria Júlia Maranhão em Joao Pessoa/Pb,

Um trabalho artesanal, fruto de uma ação de ressocialização desenvolvida na penitenciária, sob a coordenação da juíza auxiliar da Vara de Execução Penal (VEP) da Capital, Andréa Arcoverde Cavalcanti Vaz.

Conta com o apoio do Tribunal de Justiça da Paraíba, por meio de suporte financeiro disponibilizado pelo Juizado Especial Criminal da Capital (Jecrim), pelo 1ª Juizado Especial Misto de Mangabeira e pela Vara de Execução de Penas Alternativas (VEPA).

Atualmente, dez apenadas integram o projeto de ressocialização da unidade prisional, que já qualificou pelo menos 60 mulheres desde que foi implantado, de acordo com a diretora da penitenciária, Cinthya Almeida.

As bonecas são feitas de tecido, a exemplo de malha de algodão, e, para qualificar as reeducandas, voluntários promovem workshops de artesanato.

Apenadas mais antigas que integram a iniciativa também repassam os conhecimentos adquiridos às mais novatas.

Elas produzem bonecas que tem o poder de transformar vidas, elas passam a ter seus dias  de pena diminuídos, elas conseguem através da remuneração repassar esse valor para suas famílias, além da autoestima, da valorização, de começar a reconstruir, a trilhar caminhos  lá dentro os passos para a liberdade.

Em um dia de trabalho como qualquer outro, Cinthya Almeida caminhava pelo corredor das celas quando viu uma presa juntando panos para fabricar, a duras penas, uma boneca.

Perguntou se a mulher gostaria de ensinar a técnica às colegas de ala. A presa concordou e a primeira “aluna” foi Marilene, uma presa que “não queria nada com a vida”, segundo agentes prisionais da época.

Marilene violava com frequência as regras da prisão e, por isso, costumava ser punida com temporadas no isolamento. “Como sabia costurar, um dia pediu uma oportunidade para trabalhar. Mudou radicalmente”, comenta a diretora.

Pelas regras do projeto, toda participante fica responsavél de passar o conhecimento adiante. Após aprender a costurar com uma colega mais antiga na cadeia, Marilene ensinou uma outra colega que chegou depois.

Quando chegou a vez da jovem G. entrar no Castelo de Bonecas, ela encontrou o novo rumo para a vida. “A diretora me deu uma oportunidade para trabalhar. No início, eu não sabia fazer nada. Ao longo do tempo, fomos aperfeiçoando o jeito de fazer as bonecas. Terminei como responsável por criar os vestidos delas, na máquina de costura”, disse.

Além de adquirir um ofício para ganhar a vida depois de deixar a cadeia, G. levou lições para a vida do Castelo de Bonecas. “Aprendi a ter cuidado e mais paciência com as coisas. Tudo é muito cauteloso quando a gente faz cada boneca”, afirma a jovem, que hoje deixou a prisão e conseguiu emprego.

O trabalho com as bonecas dá dignidade, amplia as perspectivas de vida e  gera alguma renda para as mulheres presas refazerem a vida longe do presídio e do crime.

N.M, 33 anos, uma das reeducandas que já passou por projetos de ressocialização, ressalta a importância de ter espaços abertos aos projetos de ressocialização. “É uma grande oportunidade o nosso trabalho ser visto e reconhecido aqui fora. As pessoas ficam surpreendidas quando falo que os trabalhos são confeccionados por reeducandas do Presídio Feminino Maria Júlia Maranhão. Têm pessoas que nem acreditam, pelo fato das peças terem uma qualidade grande e serem tão bem detalhadas com traços e características diferenciadas, pontuou.

Quem participa do projeto recebe metade do valor obtido com as vendas das bonecas, comercializadas entre R$ 10 e R$ 40. O dinheiro é depositado em uma conta bancária específica. A outra metade da receita é destinada à manutenção do projeto.

A cada evento de vendas, é feito um balanço contábil das vendas. “Isso ajuda a sobrevivência delas”, afirma Graziela Gadelha, juíza responsável pelo projeto e pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJ-PB)

O artesanato produzido pelas reeducandas já participou de diversas exposições dentro e fora da Paraíba, como a Fenarte, maior feira de artesanato da América Latina, e outras edições do Salão do Artesanato Paraibano.

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