Nesta sexta-feira, 20 de novembro, comemoraremos o dia da Consciência Negra, data que faz referência ao dia da morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, e que se transformou em dia de luta, reflexão e conscientização sobre as questões do povo negro brasileiro. Diversas atividades em homenagem a este dia estão acontecendo no Rio de Janeiro em centros culturais, museus e escolas. Como professora da Rede Estadual do Rio de Janeiro, assumi a responsabilidade de organizar as atividades na unidade onde trabalho, o Colégio Estadual Mato Grosso, em Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ao invés de focar em características culturais da África, optei em realizar um trabalho de cunho político, fomentando a discussão e a troca de experiências.
A escola onde trabalho é próxima da Favela do Para-Pedro e o Morro do Juramento, mas com alunos de diversos bairros próximos. Nos últimos anos, com a política de otimização da Secretaria Estadual de Educação, algumas escolas da região foram fechadas, fazendo com que muitos alunos, de diferentes partes de Irajá, encontrassem no Colégio Mato Grosso a opção ideal. A proximidade da estação de Metrô de Irajá também contribui para a diversificação dos alunos, que podem contar com o farto transporte para chegar rápido da escola vindo do trabalho. A unidade, noturna, funciona em um prédio compartilhado com uma escola municipal de mesmo nome, oferecendo o ensino médio regular e o EJA – Educação de Jovens e Adultos. Os alunos do ensino regular são maioria na escola, com as turmas de 1ª série concentrando os mais jovens.
A minha disciplina, assim como Sociologia, possui uma carga horária mínima em cada série. Por isso, sou a professora de Filosofia de quase todas as turmas dessa escola. O trabalho é pesado e, muitas vezes, desafiador. Mesmo assim, me ofereci para organizar as atividades em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Com o auxílio do professor de Sociologia, Antônio Ana, consegui direcionar as atividades para questões do negro contemporâneo. E para começar, convidei a Agência de Notícias das Favelas, representado pelo colaborador Gabriel Rumba, para uma palestra que foi ministrada aos alunos da 1ª série desta unidade escolar. O tema foi “A violência contra o jovem negro brasileiro”.
Ao abrir sua fala, Rumba exclamou: “Na vida, o negro precisa dar sempre o melhor. Pra gente não basta ser apenas ‘bom’, precisamos sempre ser os melhores”. Esta abertura forte foi o suficiente para conseguir chamar a atenção dos estudantes. Rumba então dividiu com os jovens os acontecimentos de sua vida e militância, intercalando com episódios marcantes da história brasileira e mundial. Contou quando foi convidado para se sentar com Carlos Drummond de Andrade e sua esposa, dona Dolores de Morais, e foi estimulado a escrever seu livro. Também falou quando foi discriminado por convidados de uma vernissage, onde foi convidado por um amigo, que estava expondo na ocasião (e fez questão de apresentá-lo aos convidados). Compartilhou histórias do período que viveu nos Estados Unidos, e o contato com os Black Panthers. Falou sobre como as UPPs mudaram a rotina nas favelas – os Quilombos contemporâneos. Aos poucos, ia tratando sobre os diferentes tipos de violência que o negro sofre ao longo da vida – a discriminação, o racismo institucionalizado, a violência. Em diversos momentos, a ênfase na luta, na união, na força do povo.
Os alunos permaneciam atentos (alguns até davam discretos acenos com a cabeça em certos momentos). Em um certo momento, Rumba, que é compositor de sambas, pediu aos estudantes que batessem palmas, convidando-os a cantar:
“Quem foi que disse que Isabel deu liberdade, mentiu
Quem foi que disse que já não há escravidão no Brasil
Foi o sistema dominante, abominável
O mesmo que matou Zumbi
Vamos unir nossos gritos
Para unidos sorrir
Vamos descer esse morro
A liberdade vem aí”
O samba ganhou palmas bem marcadas, e o momento captado em vídeo traduz a força da mensagem transmitida por Rumba. Foi emocionante ver os estudantes envolvidos.
Com o tempo chegando ao fim, nosso convidado disse que estava muito feliz em estar falando com os jovens. Disse aos estudantes que deseja estar na formatura deles, pedindo para que eles não desistam de estudar. Ao fim da atividade, alunos se aproximaram de Rumba, como os estudantes Daniel Canuto e Everton Alves, demonstrando interesse na Agência de Notícias das Favelas – que apresentei na introdução da atividade – e querendo ouvir mais histórias. Mas o tempo é curto. Como solução, troca de contatos nas redes sociais, para não perder nada.
Os professores que estavam em seus afazeres na secretaria ou terminando suas aulas elogiavam a iniciativa (a música chegou aos seus ouvidos). A receptividade foi muito positiva. Ao fim do dia, percebo que a ANF fez novos amigos e novos parceiros nessa iniciativa. Como professora, fico feliz em ter proporcionado esse encontro. O Colégio Estadual Mato Grosso está de portas abertas para a Agência de Notícias das Favelas e estamos ansiosos para novos projetos em 2016.