Olhava para cima
E o céu tão azul nada me dizia
Há algumas horas era a menina
Motivada que saía arrumada
Ainda sinto a sensação de não poder fazer nada.
Era domingo,
Festa infantil do filho de um amigo
Todos muito simpáticos,
Nem havia sinal de perigo
Música alta, faixa etária de cinco para baixo
Por volta das seis,
Já cantavam o parabéns
Se aproximaria em instantes
Meu amigo, pai do aniversariante
Ofereceu carona a mim e alguns colegas
“Me deixa em casa”
“Vamos ao barzinho fim de festa!”
Passava das nove,
Agora estava com três bêbados dentro de um Escort
Os carros ao redor buzinavam
Um atalho para o mato, na rua adiante
Morava bem distante
Ofegantes,
Mãos desciam em minha nuca
Madrugada, preferia ser surda
Eram nítidos os ruídos da morte
Não era meu dia de sorte.
Todos me tocaram e me rasgaram
Me bateram e estupraram
Sem dó, eu estava ali já nua
Movimentos femininos, e a sua luta?
Estupro é cruel para responder perguntas
Egoísta para aceitar permutas
Será que realmente é só a roupa curta?
Mente pequena, em nenhum momento tive culpa
Radicalismo é forte demais, correto
Mas já se perguntou quantos casos como o meu se mantém em segredo?
Que Deus mostre sua justiça a quem quiser
Clareava o dia, e eu estava em um canto qualquer
Autoestima nem tinha mais
Hoje somos eu, a vista do céu azul e nada mais.
Israel Sant’Anna Esteves