Não poderia deixar de me manifestar em um dia como hoje, afinal, fui secretário executivo da Casa da Paz, em Vigário Geral, chegando a ser ameaçado de morte pelo trabalho que desempenhava. Apesar de dedicar um capítulo do meu livro (PERSEGUINDO UM SONHO – A história de fundação da primeira agência de notícias de favelas do mundo), que será lançado nos próximos meses, resolvi publicar um pequeno texto, pois esse episódio não poderá nunca ser apagado, devendo, inclusive, ser lembrado para que nunca volte a acontecer.
Vinte e um trabalhadores foram assassinados há vinte anos atrás e hoje, infelizmente, o que vemos talvez seja pior do que uma chacina: o número de desaparecidos em 2012 é maior que o número de homicídios. O que significa isso? Significa que ao invés de se vingarem tirando a vida e deixando os corpos de inocentes pelo chão, hoje os algozes somem com os corpos, dificultando ainda mais o trabalho de investigação e de elucidação desses crimes. O caso atual mais típico é o de Amarildo, que não é único de acordo com os dados oficiais.
Fora essa questão da violência, chamo também a atenção para o que tínhamos há vinte anos atrás e o que temos hoje, de progresso social nas favelas. Temos um número de favelas com UPPs, que não foi de todo ruim, porém os serviços que deveriam chegar, tais como saúde, educação, obras, etc, ficaram de fora. Isso sem contar que essas favelas elencadas para receberem essa política de pacificação não representam a totalidade das centenas de favelas que temos no Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.
Por fim, quero acreditar que tempos melhores virão. Temos de volta ao Brasil o sociólogo Caio Ferraz, fundador da Casa da Paz, que teve que se exilar por quase duas décadas, se tornando o primeiro exilado pós-ditadura, pela violência urbana. Na época que foi ameaçado, estranhamente, não teve a mesma ajuda de outros que são ameaçados hoje em dia. Caio, “cria” de Vigário, deu a volta por cima e está de volta para mostrar seu potencial, que aperfeiçoou fora do país, crescendo ainda mais profissional e intelectualmente. Aposto também nas muitas pessoas que tem disposição de fazer diferença, que acreditam na cultura e na educação como arma para mudar a realidade das favelas, que estão doando seu tempo, recursos e alguns que fizeram de um sonho seu projeto de vida.