Diversos bairros de Niterói estão alagados por inundações causadas pela chuva, que não para de cair desde a madrugada de sexta-feira. Os bairros mais atingidos são Itaipu, Maceió, Santa Bárbara e Morro do Bumba, de acordo com a Secretaria Municipal de Defesa Civil e Geotecnia. De acordo com o INMET, ainda há risco de novos alagamentos, deslizamentos de encostas e transbordamentos de rios.

No bairro de Engenho do Mato, que fica próximo a Itaipu e tem significativa população negra, a situação é caótica. Pessoas isoladas não conseguem sair de casa. Em outras regiões, há mais registros de ocorrências.Depois de algumas horas do início da chuva, uma casa desabou na Comunidade da Igrejinha, no Largo da Batalha.

Há relatos de moradores que estão ilhados em casa. Crédito: Redes Sociais

Engenho do Mato

Nos grupos e redes sociais, circulam dezenas de fotos e vídeos feitos por pessoas que moram em Engenho do Mato. Numa das postagens, a moradora brinca que “tem até chafariz!”.

Quem mora no bairro sempre padeceu com as chuvas. Porém, os alagamentos pioraram depois do início das obras de drenagem na região, em abril de 2022. A população reclama que as ruas estão em péssimo estado, piorando durante a chuva. É difícil até para pedestres.

Rua próxima à praça de Engenho do Mato. Crédito: Redes Sociais

Segundo a ativista ambiental e moradora do bairro, Hannah Marchon, ocorre “um problema de drenagem muito sério, que começa com soterrar o rio que desce da serra do Caminho de Darwin, com as construções que foram feitas por cima desse rio e pela ausência do poder público em fazer esse ordenamento de forma correta.”

Drenagem

Hannah se refere ao Rio João Mendes, um dos principais afluentes da Lagoa de Itaipu, com cerca de oito quilômetros de extensão. A ambientalista explica que quando chove muito, o nível do rio aumenta e atinge as residências construídas de forma desordenada.

“É um conjunto de fatores, porque, assim: as pessoas precisam morar e elas precisam de uma orientação, principalmente uma drenagem feita de forma correta, respeitando essa vazão do rio, e com as moradias… Acho preocupante a forma como acontece até hoje, a gente vê que o bairro está realmente abandonado.”

Contrastes

Niterói é uma cidade considerada rica, e ao mesmo tempo, marcada por profundas desigualdades. Pesquisas demonstram que é uma das cidades mais desiguais do Brasil. Já foi apontada com a mais segregadora racialmente.

A prefeitura cobra o segundo IPTU mais caro do estado do Rio de Janeiro, e a população vive sob pressão do mercado imobiliário. Famosa por ostentar qualidade de vida, setores da população discordam de decisões da administração municipal

Uma das polêmicas envolve o Projeto de Lei Urbanística de Niterói. Ele prevê mudanças na área da faixa marginal de proteção da Lagoa de Itaipu, e eleva o gabarito de novas construções em Niterói.

Isso significa que, especialmente em Charitas, as construções passariam de sete para 15 andares. No Cafubá, atingiria dez pavimentos.

Lei Urbanística

No final do ano passado, a Justiça suspendeu audiência pública marcada às pressas para debater o Projeto de Lei Urbanística 161/2022. A convocação para havia sido marcada sem ampla divulgação, como determina a lei.

O Projeto de Lei Urbanística vem sendo questionado pelo Ministério Público, pela oposição à administração municipal e pela sociedade civil.

Montagem de fotos de moradores nas redes sociais mostra Engenho do Mato alagado

Mobilização social

Movimentos como o “Lagoa Para Sempre”, em parceria com diversos coletivos atuantes na cultura da Região Oceânica de Niterói, lutam para defender o sistema Lagunar Itaipu-Piratininga.

“Com tantas urgências a serem resolvidas na cidade, é apresentada pela prefeitura uma proposta de alteração das diretrizes de ocupação e uso do solo que demonstra grande interesse em estimular o mercado imobiliário, sem compromisso com a melhoria das condições de vida da população, e sem um objetivo de preservar áreas de interesse ecológico, cultural e turístico”, afirma uma postagem do Lagoa para Sempre na internet.

Engenho do Mato

Outro ponto polêmico diz respeito às obras de drenagem e pavimentação no Engenho do Mato, contratadas por R$ 144 milhões ao Consórcio Novo Engenho do Mato. As obras começaram em abril de 2022.

A paralisação das obras gera reclamações entre a população. Por enquanto, o que se vê é muita lama e manilhas expostas. Boa parte das vias espera conclusão, provocando transtorno a quem mora no bairro, ainda mais com as chuvas.

Serviço

Em caso de emergência, a população deve ligar para o 199 ou 2620-0199.

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Aline Pereira
Produtora cultural atuante nos municípios de Niterói e Rio de Janeiro, organizou mais de 200 eventos de Hip Hop em espaços públicos. Com a Roda Cultural do Engenho do Mato, iniciou o projeto sócio cultural BEM - Biblioteca Engenho do Mato, que se tornou uma referência em Niterói. Desde 2020, atua no Conselho Municipal de Políticas Culturais de Niterói, representando a Câmara Setorial de Arte e Cultura Urbanas. Auxilia na mediação das Rodas Culturais no Rio de Janeiro, coordena as seletivas estaduais do RJ para o Duelo de MC's Nacional, desde 2016. Já foi convidada a participar de congressos e seminários em espaços como Cine Arte UFF, Solar do Jambeiro, Teatro Popular de Niterói, IACS UFF, MAR – Museu de Arte do Rio etc, levando sua experiência na produção de guerrilha.