Faz pouco mais de um ano que se enterraram mortos aqui na cidade do Rio de Janeiro por conta das chuvas. As vítimas, em sua maioria, moravam em lugares inadequados. Condenados. De vez em quando essas chuvas acontecem neste estado e matam muita gente. Basta o poder público tomar iniciativas voltadas para essas populações que boa parte dessas mortes pode ser evitada.

Mas eis que este mesmo governo do Estado, que prometeu casa aos moradores recentemente vitimados pelas chuvas… que costuma, depois de passada a comoção da trajédia, atrasar o aluguel social e os serviços prometidos….acaba de dizer que não vai mesmo cumprir uma promessa voltada para o atendimento dessa gente sem escandalizar meio mundo! O terreno onde havia o presídio Frei Caneca terá outro destino. Implodido para dar lugar a habitações populares que, além de abrigar as vítimas, desafogaria as favelas do entorno, permitindo uma urbanização decente, será vendido. Agora, veja só que curioso: isso vai ocorrer porque graças às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) os terrenos nesta região tiveram uma súbida valorizada!!!

Então, meus caros amigos, o lance é o seguinte: a valorização de um imóvel do Estado, efeito colateral de outra política deste mesmo Estado, vai com certeza favorecer ainda a mais especulação imobiliária: ele será vendido a alguma incorporadora para fazer um condomínio, geralmente direcionado à classe média e alta…aumentando, por sua vez o preço dos imóveis em torno e expulsando mais moradores pobres das regiões centrais da cidade. Tudo muito limpinho. Os pobres, obviamente, não vão mais uma vez participar do banquete que está cidade está preparando para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esse é o recado. A propósito, os pobres no Rio de Janeiro optaram em morar em morros por quê? Vontade de ter uma vista espetacular? Acho que não, né? O negócio deles sempre foi ficar perto de seu mercado de biscates…das casas e apartamentos onde faziam serviços domésticos. O transporte público cada vez mais caro sempre impulsionou essa prática…. A pergunta que fica é: qual é a perspectiva dessa população?

Bom, a caldeira pode explodir. Por sinal, costuma explodir de vários jeitos nessa cidade. Se a coisa continuar desse jeito acho que teremos anos quentes e não muito favoráveis aos grandes eventos esportivos… Pelo visto a panela de pressão dos interesses dos bem aquinhoados sempre tentados a abocanhar mais de seu quinhão, vai continuar chiando. Mas, como sabemos, sempre pode explodir e de maneira imprevisível.