Eram 3 horas da manhã quando entrei na favela do Jacarezinho, vindo do ensaio da Estação Primeira de Mangueira, cheguei pela Avenida Dom Helder Câmara. Fui caminhando lentamente adentrando a comunidade, uma escuridão sepulcral cobria meus olhos. A proporção que aprofundava, sentia uma sensação diferente. Estranhei por nunca ter sentido isso antes.
Olhava as janelas que mesmo abertas aparentavam não ter ninguém. Passei pela Igreja do saudoso Padre Nelson que naquela momento parecia mais ser uma simples capela embora apresentasse pompa de um Santuário carioca. Isto tudo sem contar que a mesma, ostenta o título de maior Igreja católica em favela.
Quando passei enfrente a “UPP” do Cruzeiro, percebi que não havia um só policial. Caminhei ainda um pouco mais. Um cheiro de spay de pimenta aumentava. Não aguentei. Parei no largo do Cruzeiro. Tudo escuro inclusive a imensa cruz exposta antes brilhante.
Decidi rapidamente mudar o percusso. Desci em direção ao largo do Zé Pato, deparei com fios cortados e dependurados, montanhas de lixos nos becos, transformadores fuzilados assim como todas as lâmpadas da favela.
A decisão que tomei naquele instante, também foi inédita. Pela primeira vez em 61 anos de favela. Resolvi não seguir para o meu lar. Voltei e fiquei fora da comunidade até que o dia clareasse. Preferi cochilar nas caçadas a ter que servir de alvo para os dedos nervosos dos capitães-do-mato dos feitores governamentais da atualidade. A Cidade é Fantasma, mas as nossas vidas são reais.