O Rio de Janeiro continua lindo! Não… espera!
Praias paradisíacas, carnaval, futebol e muita “moça bonita não paga, hein!”. E as mulatas tipo exportação!
Dizem que Cristo é carioca. Talvez, seja por isso que ele escolheu seu destino bem pertinho da praia pra olhar por nós entre uma cerveja e a ida para o escritório.
Enquanto escrevo esse texto, espero uma amiga na recepção de um hotel pertinho da praia de Copacabana, o cartão postal preferido da cidade. Ela é de Salvador, mas divide a vida entre Milão e Barcelona, pois trabalha como modelo. Sempre que conversamos, ela me conta do sonho de viver no Rio de Janeiro. ”Como assim?”, perguntei, saindo daquela realidade paralela e começando a refletir sobre os últimos momentos da cidade.
Durante nossa conversa, ela me pergunou como estava minha vida e como foram os últimos dias. Eu até cogitei a possibilidade de apenas responder que estava “tudo bem”, mas foi nesse exato momento que os acontecimentos recentes, me forçaram a desabafar.
Minha amiga sabe da minha escolha em falar de amor, de propagar a empatia e de todos os projetos que tenho em mente. O que ela não sabia é que, nos últimos seis dias, eu precisei cair mais na real do que gostaria. A semana foi intensa: busquei consultas para algumas mulheres que estão muito doentes e sem apoio, fiz palestras em escolas sobre autoestima e tive que buscar o meu próprio equilibrio emocional em meio a notícias de tiroteios devastadores em Manguinhos e no Jacarezinho.
Na TV, a morte do policial sendo noticiada juntamente com a de alguns moradores dos territórios em confronto. Enquanto pego o controle pra desligar o aparelho, reflito em como escrever o relatório da palestra de hoje. Perdemos dois alunos de escolas próximas e, mesmo não sabendo o real motivo de suas mortes, é inevitável que as guerras constantes não afetem a sala de aula.
Saúde, segurança e educação. Meu Rio de Janeiro, bom pra turista ver! Continua lindo, não é mesmo? Será mesmo?
No saguão do hotel, há um panfleto dos pontos turísticos da cidade, com preços que variam de R$ 150 à R$ 400 por pessoa. Entre os passeios se destaca um para conhecer uma das maiores favelas da cidade. Vamos lá! Há um tour para conhecer os pontos mais famosos da Rocinha e Vidigal. Apenas isso. Não mais longe que isso.
Quem chega no país pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim é bombardeado por uma campanha publicitária com cenas do exército brasileiro entrando em favelas para ”salvar” o povo. Como se fosse super comum e uma felicidade para os moradores.
Que maravilha de utopia!