Debate vai, debate vem e muita gente ainda fica muito confusa quando o assunto é o voto para presidente. De um lado, tem quem jure jamais votar em Bolsonaro e Companhia, alegando que ele tem um cunho preconceituoso e ditatorial; de outro, há quem acredite que ditadura é a única solução para resolver os problemas do país, principalmente os que estão vindo à tona recentemente, como a corrupção e a violência extrema. De qualquer forma, o fato é: a ditadura NÃO pode voltar de jeito nenhum. E se você ainda está se perguntando sobre o porquê, vamos te dar cinco motivos para o regime militar não passar nem na porta do Brasil nunca mais.
Um: Houve prisão política e tortura de crianças. Em 1974, uma operação chamada Camanducaia transportou 97 menores de idade de São Paulo para as proximidades de Camanducaia, MG. Esses meninos foram torturados dentro do veículo que os transportava e jogados na mata, nus e no escuro e os militares ainda atiraram para fazer os meninos correrem e se espalharem. Além disso, outros crimes hediondos contra crianças foram cometidos, como a prisão e o exílio dos irmãos Nascimento, com idades entre 2 (dois) e 9 anos, por serem considerados extremistas.
Dois: Regimes ditatoriais favorecem a corrupção. É, se você achava que o militarismo ia acabar com os “ladrões da nação”, estava redondamente enganado. “O que os olhos não veem, o coração não sente”, diz o ditado. Na ditadura, foi assim mesmo. Corrupção havia, mas, tanto quanto ela, havia a censura. Se um repórter descobrisse que um político fez algo errado, ele até poderia escrever sobre isso, mas, antes mesmo de publicar, era vetado. O famoso Ato Institucional Número 5 (AI-5) afirmava que corruptos seriam duramente punidos, mas dos 1.100 processos que foram parar na Comissão Geral de Investigações (segundo o Memórias da Ditadura) apenas 99 resultaram em alguma punição. Além disso, convenhamos: um regime instaurado sem participação popular, que espalhou boatos de que o então presidente Jango havia fugido do país quando, na verdade, estava no Rio Grande do Sul, a trabalho, não pode ser confiável.
Três: Os índices de analfabetismo eram alarmantes e o ensino secundário era para poucos. Durante a ditadura, cerca de 40% das pessoas acima de 15 anos eram analfabetas (contra 7,2% atualmente, segundo o IBGE). Além disso, as instituições públicas de ensino eram moldadas aos interesses da elite. Nas escolas, eram ensinadas regras sobre moral (instituídas pela ideologia militarista) e para ingressar nesses colégios, era preciso ser aprovado num teste de admissão, geralmente muito difícil, para que um número mínimo de alunos passasse. Se alguém fizesse ensino técnico profissionalizante (como nos colégios de ensino médio e técnico que conhecemos hoje) ou escola normal – para ser professor de escola primária – não havia como entrar numa universidade, já que apenas os poucos que cursaram o ensino secundário já citado tinham o requisito necessário.
Quatro: As minorias eram fortemente perseguidas e torturadas (quando não eram mortas). Indígenas que lutavam por suas terras, tentando defendê-las da expansão urbana, foram assassinados, criminalizados ou presos assim como LGBTs, negros ou pessoas que queriam, simplesmente, democracia. Agora, pensando bem, se a ditadura ou um regime semelhante fosse instaurado, não seria a branquitude de classe média e alta que seria morta, não é? Também não seria ela a ser torturada. E se não é a elite, quem é castigado? O pobre, negro, favelado, o homossexual, o índio, o imigrante e todo mundo que não se deixa implantar uma ideologia fascista e elitista. Pense bem antes de dizer que a ditadura deixou saudades, porque, caso ela volte, um dos desfavorecidos pode ser você ou um conhecido seu.
Cinco: A violência era praticada por quem deveria combatê-la. Esse discurso de que na ditadura, o criminoso não tinha vez é muito contraditório. Primeiro: quem é o criminoso? Pode ser tanto alguém que rouba quanto alguém que a polícia acha que roubou alguma coisa. Pode ser um estelionatário ou um jornalista que apenas não concorda com o regime vigente. Pode ser um assassino ou uma criança. Segundo: dados os acusados, que tipo de justiça cairá sobre eles? Cadeira elétrica, coronhadas e outros tipos de tortura? Ou a prisão, que é o que a Constituição prevê? Uma justiça injusta não pode ser aceita e essa história de que “bandido bom é bandido morto” não cabe mais hoje em dia. Se você ou seu filho, por exemplo, fosse confundido com um estuprador, mesmo sem provas, você seria torturado e, se sobrevivesse e saísse da prisão ainda em vida, não teria a quem recorrer porque a “justiça” foi feita pelos órgãos competentes, só que na pessoa errada.
Por esses e por outros motivos, caro eleitor, escolha bem seus candidatos. Essa matéria é baseada em sites e relatos históricos. E se você não acredita, pesquise nos livros e na internet, ouça o que as pessoas que viveram a tortura militarista têm a dizer. Desconfie dos discursos elitistas, machistas e homofóbicos. Mudança social se faz com consciência, não com força bruta e violência.
*Matéria publicada no jornal A Voz da Favela edição Setembro