Cloroquina e hidroxicloroquina estão cada dia mais longe da verdade

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Dados hospitalares de uma empresa americana usados em artigos sobre o uso da hidroxicloroquina foram postos sob suspeita a partir de uma investigação do jornal britânico The Guardian publicada nesta quarta-feira, 3.

Os estudos disponíveis nas revistas científicas The Lancet e The New England Journal of Medicine lançaram mão de informações hospitalares fornecidas pela Surgisphere, companhia desconhecida norte-americana que conta com pessoas sem formação em dados ou ciência no seu quadro de funcionários. Segundo o jornal, um escritor de ficção científica e uma modelo de conteúdo adulto estariam entre os empregados da empresa.

Os artigos publicados com esses dados serviram de base para governos e até a Organização Mundial de Saúde mudarem diretrizes com relação ao uso da hidroxicloroquina e encerrarem experimentos que estavam em andamento. A empresa diz ter obtido legitimamente informações de milhares de hospitais, mas não explica seus dados nem sua metodologia. O diretor-executivo da Surgisphere, o médico-cirurgião Sapan Desai, assina os artigos como um dos autores. Uma comissão foi montada com os outros autores dos estudos que não são ligados à empresa para fazer uma auditoria da validade dos dados.

Após a publicação de um artigo na The Lancet no dia 22 de maio, o jornal já havia apontado inconsistência nos dados usados. No texto, o número de mortes causadas pela doença na Austrália até o dia 21 de maio era de 73; as fontes oficiais, porém, registravam 67 óbitos até aquele dia.

A revista Lancet chegou a publicar uma correção, mas afirmou que os resultados permaneciam os mesmos. O estudo, feito com informações de quase 100 mil pacientes, apontou que a hidroxicloroquina aumentava o risco de morte nessas pessoas.

A hidroxicloroquina tem sido alvo de controvérsias desde os primeiros estudos publicados sobre o uso do remédio para combater a infecção pelo novo coronavírus.

Após uma série de estudos mais robustos publicados não terem encontrado benefícios significativos do uso da medicação nos pacientes internados com a doença, governos decidiram se afastar da hidroxicloroquina. No final de maio, os Estados Unidos enviaram 2 milhões de doses de hidroxicloroquina para o Brasil.