Que todo menino sonha em ser jogador de futebol a gente já sabe. Daí a usar o esporte como isca para atrair crianças e levá-las para o caminho da educação é uma sacada tão simples quanto genial. É a esse trabalho que se dedica o gari Ronaldo da Silva, 57 anos, há 17 na Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), que treina um time de crianças de favelas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, município onde mora.
É o projeto Os 11 Brinca Bem, um time de futebol infantil que mistura ensinamentos esportivos com artísticos, provocando uma reflexão sobre cidadania. Há onze anos o projeto é atuante na luta por mudança social através da conscientização de pais e alunos. É no Sindicatos dos Rodoviários de Belford Roxo que a garotada se reúne todo sábado para bater uma bola sob o comando de Ronaldo. Para participar existe uma contrapartida que Ronaldo não abre mão: comprovar o bom desempenho na escola.
A ideia inicial era buscar transformar o futuro dos moradores das favelas, sobretudo das crianças, através encontros para debater questões da própria comunidade, além de oficinas. Mas, ele percebeu que a proposta precisava de um atrativo. Foi aí que ele teve a ideia de retomar um antigo projeto iniciado por seu pai 1964, que vingou por anos, mas que estava desativado: o time de futebol infantil Os 11 Brinca Bem.
— Várias gerações de crianças, hoje com mais de 20 e poucos anos, treinaram comigo. O Brinca Bem não é só um sonho de clube, mas, sim, um sonho de que as crianças possam desenvolver seu próprio dom. A intenção é sempre buscar o dom de cada criança e dar para ela a ferramenta de que precisa para abrir uma nova oportunidade – relata Ronaldo.
Faltava a ajuda financeira e Ronaldo viu se formar uma corrente de solidariedade que transpõe os limites do município. O projeto recebeu apoio de amigos, garis do Aterro e barraqueiros da Praia do Flamengo, na Zona Sul da capital, área da cidade em que trabalha. E foi assim que, em 2018, Os 11 Brinca Bem voltou com toda força.
Atualmente, 30 crianças entre seis e 13 anos são atendidas pelo projeto. Elas chegam pela manhã e participam de oficinas como pintura, poesia, música, dança, sempre com artistas convidados. Somente após essas atividades é que as crianças caem em campo para os treinos na escolinha de futebol.
* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, janeiro/2019.
