Coletivo em depressão, o mal do século XXI que está adoecendo o nosso planeta

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Em 20 de agosto de 2019, uma terça-feira, o estado do Rio de Janeiro foi acordado com a triste notícia de mais um ônibus sequestrado na Ponte Rio-Niterói. No veículo havia 37 passageiros, habituados a pegar o mesmo coletivo todos os dias, no mesmo horário. E cada um com seus pensamentos, com seus problemas, com suas angústias e frustrações por algo que pode ter dado errado, e porque não dizer também, cada um com sua alegria e felicidade por ter tido alguma conquista. E o crime que parou as duas cidades, foi cometido por Willian Augusto da Silva, morador da cidade de São Gonçalo, região metropolitana do Rio. 

Ele entrou no ônibus como qualquer outro passageiro, e também carregava seus dilemas internos como todos que ali estavam.  Minutos depois de ter entrado no veículo, Willian anunciou o sequestro deixando todos preocupados e com muito medo do que poderia acontecer. O rapaz, de apenas 20 anos, estava passando por problemas psicológicos, segundo informações de familiares e amigos. Pois, Willian, ao anunciar o sequestro, se identificou como policial militar, e segundo os passageiros, demonstrava estar muito confuso, falando coisas sem sentido e dizia que iria entrar para história. E infelizmente ele entrou, mas da pior forma, e marcando a sua história de vida, de seus familiares e daquelas pessoas que estavam dentro do coletivo. 

Mas também, sua atitude extremada, nos deixou com uma reflexão sobre uma doença que durante muito tempo foi tratada como frescura, doença de rico, preguiça, e por vai. E que doença seria essa? Essa doença, que fez um rapaz jovem, e segundo declarações de familiares,  alegre, brincalhão, um filho e um irmão carinhoso e amoroso, querer acabar com a própria vida é a depressão. Uma doença silenciosa, que muitas vezes, se esconde por trás de belos sorrisos, sonoras gargalhadas e brincadeirinhas que animam as rodas de conversa, festas e resenhas de amigos e familiares. 

E com base nas declarações da mãe e irmã de Willian, declarações de seus amigos, vimos que a depressão não fica só trancada dentro do quarto, isolada, triste e chorando muito, com pensamentos negativos fixos. Não, ela não fica, pois, a mesma também sai do isolamento e convive no meio social discretamente, mas tentando a sua maneira chamar a atenção e gritando por socorro, esperando que alguém ouça e lhe dê amparo. O depressivo observa a todos para ver quem é que poderia lhe estender a mão, quem tirararia alguns minutinhos do seu tempo para lhe ouvir e evitar que seja tomada uma atitude extrema que faça a pessoa doente fazer a dura escolha entre a vida e a morte. 

Então, sendo assim, temos que falar sobre essa triste doença, temos que falar sobre depressão. Temos que mostrar todos os dias, durante 24 horas ininterruptas, o quanto essa enfermidade é cruel e mata. Pois só no Brasil, temos 5,8% da população está em depressão, isso significa 11,5 milhões de brasileiros deprimidos, segundo os dados da (Organização Mundial de Saúde) OMS. O país é o que possui maior número de pessoas em depressão da América Latina, ainda segundo os dados da OMS.

Em 2016 foram registradas 11.433 mortes por suicídio no Brasil, o que equivale 31 casos registrados por dia. Esses dados são do Ministério da Saúde, que ainda afirma que o número de casos teve um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior. São dados alarmantes, que fizeram as autoridades ligarem o alerta para o crescimento da depressão é começarem a fazer algumas campanhas, como temos esse mês o “setembro amarelo”.

Essa, é mais uma campanha como outubro rosa, que faz um alerta para chamar atenção para o câncer de mama, que afeta em suas maioria, mulheres, e  novembro azul, alertando para o câncer de próstata, que atinge homens, na maioria das vezes, acima dos 40 anos. E o setembro amarelo também é mais uma campanha de alerta para chamar a atenção para doença da depressão, que vem crescendo de forma espantosa, tanto a nível nacional, como mundial. 

No mundo são registradas quase 800 mil mortes por suicídio por ano. A cada  40 segundos uma pessoa se suicida em algum lugar do planeta, de acordo com os dados divulgados pela OMS. Entre as pessoas entre 15 e 29 anos, é a segunda maior causa de morte, ainda de acordo com as informações da agência. 

Sim, uma grande parte do mundo está adoecida, uma grande parte do mundo está com sérios abalos psicológico, uma grande parte do mundo está em depressão. Muitos seres humanos estão travando sérias batalhas internas, que sem causas aparentes os deixam entrestecidos e desmotivados para dar continuidade a sua rotina de trabalho, estudo, sua vida cotidiana em geral.

Mas não é só a tristeza, a falta de ânimo, o choro sem motivo, a solidão os principais sintomas da depressão.  Pois o preconceito misturado ao desconhecimento também são sintomas que contribuem para o crescimento da doença. Porque muitas pessoas ainda acreditam que depressão não é uma doença, mas frescura de quem está doente. Que é uma doença só dos ricos, mesmo pesquisas revelando um grande aumento de deprimidos nas classes mais baixas. O número de suicidas nessas classes tem aumentado muito e a crise econômica que vem se abatendo não só no Brasil, mas também, em alguns outros países do mundo, contribui para que o número de suicídios seja cada vez maior. Pois, os mais pobres são os maiores atingidos financeiramente.

E quando os estudiosos e os pesquisadores começam a fazer suas análises por categorias, percebe-se que em todas há um aumento grande de depressivos. Mulheres e homens, crianças e adultos, jovens e idosos, negros e brancos, pobres e ricos, anônimos e famosos, em todas as categorias há muitas pessoas deprimidas, o que nos mostra o quanto é bastante preocupante a situação. A doença já vem sendo tratada como um dos males do século XXI, pois já é a maior causadora de afastamento do trabalho, escolas, universidades e outras atividades do cotidiano.

Então, temos sim, que falar sempre e muito sobre a depressão. Temos que romper com o preconceito e quebrar certos tabus que contribuem para o aumento da doença. Buscar cada vez mais informação sobre o assunto, pois só assim, será possível contribuirmos para a diminuição do número de mortes por suicídio. Temos que ouvir aquela pessoa que não quer nada mais do que uns minutinhos de atenção. Sim, ouvir, nem que seja por alguns poucos minutos e isso já é um gesto de muita grandeza. 

Iniciei o texto citando o caso do sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói, que foi cometido por Willian Augusto da Silva, que foi morto por um atirador de elite ao sair do veículo, e o mesmo estava pensando por problemas psicológicos, segundo informações de seus familiares. Ele, Willian, estava em depressão, parecia não suportar mais viver. E como disse lá no início do texto, sua atitude nos deixou com uma reflexão sobre essa doença psicológica que já existe a muito tempo em nosso meio, mas não era tratada como tal. E refletindo sobre o assunto, ficam as perguntas; será que Willian Augusto não queria também ser ouvido e assim salvar sua vida? Será que a maioria das pessoas que se suicidaram por estarem em depressão, não queriam apenas serem ouvidas antes de tomarem uma atitude tão extremada como tirar a própria vida?

As respostas para essas perguntas não poderemos mais ouvir, pois estas pessoas calaram-se para sempre e sem a chance de falarem sobre suas dores da alma. Sem a chance de serem ouvidas por alguém. Não saberemos nunca o que estavam sentindo, o que as afligiam, o que as atormentavam para não querem mais viver e resolverem por fim a todos os seus problemas de uma só vez.

É assustador dizer, mas, a depressão mata, a depressão está matando e de maneira coletiva, como mostram os números de dados estatísticos. Todos os dias, no mundo inteiro, a cada 40 segundos, alguém escolhe não viver mais e se suicida. A cada 40 segundos no mundo inteiro, uma história de vida é interrompida pela depressão. Por isso é necessário falar sempre e muito sobre a doença. É necessário ouvir quem está se sentindo triste e isolado, para virarmos esse jogo e mostrarmos para cada uma dessas pessoas que elas não estão sozinhas. 

Temos que cobrar das autoridades brasileiras mais ações públicas para tratar do assunto. Temos que exigir mais médicos psiquiatras, psicólogos, terapeutas, especialistas, etc, nos postos e clínicas da família para prestar atendimento e acolhimento aos inúmeros doentes. 

Este coletivo que está em depressão só será salvo quando falarmos mais sobre a doença e principalmente, quando eles forem mais ouvidos, nem que seja por alguns minutos. Pois afinal, independente do setembro amarelo, queremos esse coletivo vivo e valorizando cada segundo de suas vidas.

 

Núcleos de apoio a pessoas com depressão:

Centro de Valorização da Vida (CVV) 

Tel:. 188 

Site: https://www.cvv.org.br

 

Grupo de Apoio à Pessoas com Depressão (GAP)

Tels.: (21) 3741-5594 / 998.722.724

Site: www.lenilsonferreira.com

E-Mails: contato@lenilsonferreira.com / gapniteroi@gmail.com

 

Neoroticos Anônimos (N /A)

Sites: neoroticosanonimos.org.br / www.enaerj.org.br

E-Mail: enaerj@enaerj.org.br 

 

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

Sites: www.saude.gov.br / www.rio.rj.gov.br 

Tels.: 1746 (Prefeitura RJ) / 136 (Ministério da Saúde – MS)

 

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.