O Coletivo Ficcionalizar, que atua há quase 10 anos e já produziu diversos curtas-metragens, ofereceu recentemente o curso “Ficcionalizar no Alto”, entre março e julho de 2024. E em 2022 promoveu outra formação intitulada “Contos de Ifá” oportunizando a população da periferia a contar suas histórias.

Cada dia de aula era como um momento mágico, repleto de trocas e aprendizados únicos. Momentos de pesquisa sobre a região onde o curso foi oferecido foram essenciais, assim como identificar possibilidades de locações, roteiros, personagens, sons e “atores” (pessoas que, inclusive, nunca haviam tido esse contato com o audiovisual).

“Sempre gostei de assistir filmes, seja no cinema ou na TV… Quando era criança adorava assistir a desenhos animados e documentários sobre a vida da fauna e flora. No cinema, os documentários e histórias inspirados em fatos reais sempre conquistaram meu interesse e atenção com mais facilidade, Keissy Vanderley, integrantes do curso ex-aluna.

Em 2023, o Ministério da Cultura promoveu uma pesquisa sobre a relação dos brasileiros com a diversidade cultural no Brasil. Um dos percentuais que chamou atenção é o que revela que 60% dos brasileiros nunca foi ao cinema, demonstrando que a maioria da população busca por cultura – ao menos em filmes – de outras maneiras, como
através da TV.

O coletivo retomou a realização do curso de audiovisual, dessa vez, chamando-o de “Ficcionalizar no Alto”, realizado no Alto Santa Terezinha, com objetivo de oferecer aos moradores dos Altos de Recife (PE), atividades lúdicas através de pesquisas, contação de histórias de pessoas reais e do próprio território.


“Lembro de quando iniciei meus estudos sobre o audiovisual com experimentos através da câmera do meu celular: um prisma na frente da lente sendo segurado por uma gambiarra com uma caneta, a luz direta do sol entrando pela janela e as grades formando sombras na parede, enquanto eu mesma performava ali ao som de músicas que gosto… O momento de montagem e edição do vídeo foi como brincar com as possibilidades, encaixando a coreografia no compasso da música, dando ritmo aos cortes”, reforça Keissy Vanderley.

O curso ensinou a criar docficção, que é uma forma de apresentar, através do audiovisual, um evento ou pessoa real e enxergar uma possibilidade de “fissura” nessa realidade, tornando toda a história mais impactante e poética.

Porém, como repensar a realidade sem fugir dela? Como enxergar essa “fissura”? Para isso acontecer, o curso inicia-se com a partilha de conhecimentos entre profissionais e participantes sobre as principais ferramentas de manipulação da realidade, sendo elas: a fotografia, o som, a arte e o elenco.

Quando articuladas da forma adequada, essas ferramentas podem proporcionar aos espectadores a sensação esperada pelos diretores (e participantes do curso).


Cada dia de aula era como um momento mágico, repleto de trocas e aprendizados únicos. Momentos de pesquisa sobre a região onde o curso foi oferecido foram essenciais, assim como identificar possibilidades de locações, roteiros, personagens, sons e “atores” (pessoas que, inclusive, nunca haviam tido esse contato com o audiovisual).

Criar todo o filme de forma coletiva, decidindo juntos tudo o que é relativo aos processos e etapas da produção e criação do curta metragem, pensar em seus mínimos detalhes e vê-lo sendo exibido por pessoas da própria comunidade foi uma das experiências mais importante e impactantes.

“Tive a satisfação de vivenciar algumas aulas e a produção do docficção, que será lançado e exibido em breve. Presenciei a comunidade contribuindo para a realização do filme, nos contando histórias, cedendo suas casas e quintais, abrindo a porta do seu comércio, baixando o volume do seu som, parando de jogar dominó para as gravações acontecerem”, enfatiza Keissy Vanderley…

No Ficcionalizar, a ficção é utilizada como um mecanismo para salvar as pessoas da realidade, dando esperança e plantando sementes de possibilidades para contar e espalhar histórias reais para que nunca esqueçamos quem somos e de onde viemos.

“Todos imaginando o que estávamos
querendo contar através deste filme. Ouvi crianças falando que nunca haviam visto uma produção cinematográfica e “ainda mais, por aqui, pela favela”, curiosas ao ver um homem negro com um facão, todo melado de sangue cenográfico, urrando enquanto esse sangue era cuspido, saindo da casa que elas transitam em frente todos os dias…
Essa cena foi gravada umas quatro vezes e, cada vez que ela era regravada, juntava-se mais pessoas ao redor”, Keissy Vanderley.


YOUTUBE: https://www.youtube.com/@ficcionalizar4538

Texto colaborativo por: Keissy Vanderley