Leonel Brizola é ainda hoje uma figura que causa controvérsia, mesmo 13 anos após sua morte. O ex-governador do Rio e fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT) era capaz de despertar paixões ao se posicionar sempre de maneira firme contra o monopólio dos poderosos. A coletânea de artigos Tijolaços, que Leonel Brizola Neto lança hoje, a partir das 18 h, no Circo Voador, com presença de políticos e jornalistas, oferece um resumo do pensamento e da visão de um dos mais importantes políticos da história do Brasil.
Em mais de 50 anos de militância, Brizola foi uma das personalidades mais ativas da esquerda brasileira, inclusive durante a Ditadura Militar, quando deixou o país após a derrubada de João Goulart, seu cunhado e companheiro de lutas. Inimigo histórico de diversos poderosos, como Moreira Franco e Roberto Marinho – a quem chamava de “corneteiro da ditadura” -, lutou até o fim da vida, em 2004, contra as desigualdades.
No Rio de Janeiro, o gaúcho de Carazinho foi eleito governador duas vezes (1983-1987 e 1991-1994), e se destacou pela criação de projetos importantes, como os Cieps e o Sambódromo do Rio. Também implantou uma política diferenciada de não-enfrentamento direto da criminalidade nas favelas, evitando confrontos entre polícia e tráfico. “O projeto para as favelas naquela ocasião eram os centros comunitários da defesa da cidadania”, explicou o advogado e ex-governador Nilo Batista, secretário da Justiça e da Polícia Civil e vice de Brizola durante o segundo mandato, em entrevista ao Jornal A Voz da Favela de abril de 2017.
Foi neste contexto que Leonel Brizola passou a publicar artigos na imprensa carioca. Jornal do Brasil e O Globo publicaram a coluna “Tijolaço” entre os anos 1980 e 2000 – espaço pago para propagar seus pensamentos e criticar aqueles que considerava inimigos da pátria. “Brizola utilizava verba de publicidade do partido para pagar pelo espaço de uma coluna. Foi a maneira que encontrou de veicular suas ideias”, revela o organizador e hoje vereador pelo PSOL Leonel Brizola Neto. A briga histórica com a Globo, de quem recebeu direito de resposta lido em rede nacional por Cid Moreira no “Jornal Nacional” em 1994, também está presente em diversos textos. “Ele enfrentou a campanha midiática da Globo contra os Cieps. Foi o único que não lhe deu benesses e cobrou o que ela devia ao Estado, os impostos”, explica.
Apesar de produzidos há décadas, os textos de Brizola em Tijolaços parecem escritos dias atrás, tamanha a precisão de suas análises políticas sobre personagens e elementos ainda ativos na política nacional, como José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, PMDB, FMI e o poder da mídia. Os artigos foram selecionados e relacionados à atualidade política – muito do que Brizola apontava nas páginas do JB e, posteriormente, O Globo estampa hoje as capas destes mesmos jornais, seja nas bancas ou na internet. Mas por que tudo parece tão atual? Nada mudou? “A política avançou em alguns setores com os governos Lula e Dilma. Mas não mexeu de fato no que precisava. Todas essas figuras ainda têm essa espinha dorsal do neoliberalismo, modelo perverso e desumano que só gera miséria”, opina.
Em casa, Brizola vivia política 24 horas por dia. Lia todos os jornais diariamente e passava o resto do tempo ao telefone, conversando com pessoas e fazendo contatos. Na educação dos filhos e netos, era rígido na disciplina, nos estudos e na leitura. “Ele não era só nosso avô, mas de todas as crianças do Brasil. Vivemos isso na prática”, conta Leonel Brizola Neto. Apesar da figura carrancuda, era um homem divertido e alegre, de hábitos simples guardados ainda da infância humilde no interior do Rio Grande do Sul.
Lançamento no Circo Voador
Nesta segunda, 26, o Rio de Janeiro recebe o lançamento de Tijolaços, que está à venda através do site www.galpaoleonelbrizola.com.br, em um grande debate no Circo Voador. Estão confirmadas a presença de jornalistas e blogueiros da imprensa independente, como Cynara Menezes (Socialista Morena), Miguel do Rosário (O Cafezinho), Fernando Brito (Blog Tijolaço) e políticos como Lindbergh Farias (PT) e Glauber Braga (PSOL).
O encontro pretende ser o pontapé para um laboratório de discussão permamente da política brasileira e acontece na mesma semana da nova Greve Geral, que deve acontecer em 30 de junho. Leonel Brizola Neto também sonha publicar mais textos do avô. “É importante resgatar o pensamento do Brizola para voltar a um caminho que o Brasil já trilhou, que é o trabalhismo, e desenhar um futuro melhor para o nosso país”, finaliza.
Serviço:
Lançamento Tijolaços, de Leonel Brizola Neto
Data: 26 de junho, às 18 h
Endereço: Circo Voador (Rua dos Arcos, S/N, Lapa, Rio de Janeiro – RJ)
Entrada franca.