Num surto bolsonarista inédito até então, o governo de Lisboa e do Vale do Tejo relaxou as medidas de isolamento social baseado no achatamento da curva, redução de mortes e alguns outros indicadores que dispensam o uso de cloroquina e truques de igrejas neopentecostais que apoiam o presidente brasileiro. Mesmo assim, os resultados foram desastrosos: 300 novos casos são registrados diariamente, nivelando Portugal à situação da Suécia, onde o governo também não considerou as recomendações da Organização Mundial de Saúde, OMS. Conclusão: voltaram as restrições de locomoção, ingresso no país e outras, por tempo indeterminado, e adiaram-se os planos de retomar a atividade turística no país, uma das mais fortes da economia.
Desde 10 de junho – feriado da festa nacional de Portugal – até este domingo 14, a prefeitura de Lisboa está impondo novamente restrições para saídas. No sábado 13, dia em que os lisboetas celebram a Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade, a população teve que permanecer em casa. Normalmente, nesta época do ano, os moradores da capital invadem as ruas para comer sardinhas grelhadas, dançar e cantar. Na madrugada do 12 de junho, um grande desfile popular é realizado pelos moradores dos diferentes bairros. E no dia da festa do padroeiro, um grande casamento coletivo é organizado sob a proteção do santo casamenteiro.
Neste ano, devido ao ressurgimento do coronavírus em Lisboa, nada disso pode ser festejado. Os bares e restaurantes fecharam mais cedo. As decorações de ruas foram proibidas. Cerca de mil policiais foram mobilizados para que a população respeitasse as restrições. Portugal vem registrando cerca de 300 novos casos de coronavírus por dia. Na Europa, é o segundo país depois da Suécia a confrontar essa situação. A terceira fase do relaxamento da quarentena teve que ser adiada na capital e no Vale do Tejo.
As autoridades portuguesas estão preocupadas e chegaram a criar uma comissão especial para gerenciar o ressurgimento da doença Lisboa, aumentando o número de testes de detecção da Covid-19. Depois de uma clara diminuição em maio, as internações começam a aumentar. A maior parte dos novos casos de Covid-19 – entre 80% e 90% – ficam na região da capital. Focos foram registrados em usinas, depósitos e empresas de construção.
Desde o início do relaxamento da quarentena, em maio, a circulação entre as periferias e o centro de Lisboa foi retomada com intensidade. Nos transportes públicos lotados é impossível respeitar as regras de distanciamento físico. O governo adota um discurso de prudência. Mas o aumento do número de casos é constrangedor, sobretudo em um momento em que o país aposta no turismo, motor da economia portuguesa.
Assim, o discurso de volta à normalidade deixou de ser utilizado nos últimos dias. Portugal entrou na pandemia com um mês de atraso em relação aos outros países europeus e deve demorar a sair da crise sanitária, em um contexto volátil de um coronavírus que continua a circular. O país registrou até o momento mais de 36 mil casos confirmados, além de 1.512 mortes.
(Com informações da RFI em Lisboa)