Raphael Vidal, dono do restaurante Casa Porto, na zona portuária do Rio de Janeiro, lembra o início da sua experiência com entregadores com uma historinha exemplar: “No início de maio começamos o delivery independente na Casa Porto. No primeiro dia tínhamos três entregadores e um foi fechado na primeira corrida e teve que ir pro hospital (mas ficou bem depois). Encerramos os novos pedidos e ainda tinha uma porrada pra fazer entrega. Eu estava desesperado. Sou virginiano com ascendente em Oxóssi e me cobro muito na excelência do que faço. Nisso um entregador do ifood que foi buscar um pedido viu aquela porrada de pacotes e minha agonia no telefone tentando arrumar gente pra ajudar. E disse: ‘Tô indo pra Tijuca. Tem quantos aí praquela área?’ Fiquei meio embasbacado. O camarada tomou a iniciativa em segundos, pegou uns três pacotes, anotou o telefone dele num papel, pegou uma maquininha nossa de cartões e disse que voltava”.
O rapaz fez as entregas e voltou. No dia seguinte já não trabalhava mais pro iFood. As experiências de Vidal são quase sempre surpreendentes como a do entregador, e ele as valoriza e cultiva novas relações fiel a uma ótica que, infelizmente, costuma ser o oposto do que se vê por aí. Por isto, enquanto os entregadores de aplicativos protestam e suspendem as entregas em diversos pontos do país, como hoje, este comerciante carioca faz o balanço na ponta do lápis e expõe no seu Facebook:
“Estou aqui fazendo contas e neste mês esse gente boa (o entregador voluntarioso) faturou quase dois mil reais com a Casa Porto. E uma cesta básica de bônus. Além de ter almoçado, lanchado e sido tratado com dignidade. Hoje temos oito entregadores na equipe.
Como sou bobo, compartilho essas pequenas felicidades.
De certa forma, é bom vocês saberem como o dinheiro gasto na nossa birosca está sendo bem distribuído em tempos de pandemia”.
Em apoio ao movimento dos entregadores, Raphael Vidal também pede: “pra que tudo isso aconteça, vocês precisam evitar os apps como ifood e ubereats. Procure saber se o bar/restaurante tem entrega independente e valorize isso. Mesmo que o pedido atrase um pouco ou que eventualmente esqueçam a sobremesa. Garanto que tudo vai ser resolvido com a maior atenção. A maioria absoluta de pequenos negócios começou do nada a trabalhar com entregas em meio a uma pandemia. Vocês talvez não tenham ideia da dificuldade que é pra organizar isso direitinho.
Somos – cada vez mais – insistência”.
A Casa Porto está em primeiro lugar no ranking do @delivery.do.bem entre os 218 estabelecimentos do Rio de Janeiro. Mereceu até um banner de destaque. No @ifoodbrasil ganhou nota 4.8, com 227 avaliações, e no @ubereatsbr 4.9, com mais de 500 avaliações.
