* Com colaboração de Tiê Vasconcelos
Comunicadores do Complexo do Alemão, zona norte carioca, têm relatado o dia a dia e mobilizado ações para combater a disseminação do coronavírus na região através da hashtag #Covid19NasFavelas nas redes sociais.
No estado do Rio, hoje, 20, há 66 casos confirmados e a expectativa é de que esse número aumente drasticamente, e os impactos nas favelas serão grandes. As orientações de prevenção indicadas pelo Ministério da Saúde não condizem com a realidade de boa parte dos moradores das favelas e periferias.
#COVID19NasFavelas | RESUMO:
— Santiago, Raull. (@raullsantiago) March 16, 2020
As três principais dicas p/ evitar exposição e proliferação ñ nos cabem.
Lavar sempre as mãos? (falta água direto). Usar álcool gel (não tem dinheiro para). Quarentena/isolamento (Com casas de dois ou três cômodos e 6 pessoas?)
COMO NA FAVELA?
Em contramão à postura do governo, ontem, 19/03, Raull Santiago, Tiê Vasconcelos e Renê Silva fizeram uma ação direta do Movimento Juntos pelo Complexo do Alemão (#JuntosPeloComplexodoAlemao), espalhando panfletos, cartazes e faixas informativas sobre a prevenção contra o coronavírus em regiões estratégicas.
Os comunicadores têm relatado também a falta de água em diversos pontos da favela, inclusive em suas casas. Tiê, por exemplo, diz que “a hora de estocar água é de madrugada”, porque durante o dia não tem fornecimento. Este problema não é atual, mas se agrava com a presença do coronavírus.
“”Não tem água na favela pra lavar a mão? COMPRA!””
Eu não posso comprar água nem pra beber, mesmo infectada e com gosto de barro. Vou comprar pra lavar a mão?
Ter água na favela pra lavar a mão tá sendo luxo
Não fazem ideia da nossa realidade!
#COVID19NasFavelas #coronavirus pic.twitter.com/Vf2zOKMcd7— Tiê Vasconcelos (@tievasconcelos) March 16, 2020“”Não tem água na favela pra lavar a mão? COMPRA!””
— Tiê Vasconcelos (@tievasconcelos) March 16, 2020
Eu não posso comprar água nem pra beber, mesmo infectada e com gosto de barro. Vou comprar pra lavar a mão?
Ter água na favela pra lavar a mão tá sendo luxo
Não fazem ideia da nossa realidade!
#COVID19NasFavelas #coronavirus pic.twitter.com/Vf2zOKMcd7
Becos estreitos, casas extremamente próximas e de poucos cômodos: isolamento não é uma opção na maior parte desses territórios. Já o álcool em gel é artigo de luxo, que poucos podem e conseguem comprar. Além da alta no preço, tanto o álcool 70º quanto o álcool em gel estão em falta em muitos estabelecimentos.
Na Nova Brasília, no Complexo do Alemão, por exemplo, faltam os produtos em pelo menos quatro das cinco farmácias. Na quinta-feira, 18/03, a reposição recém chegada na Farmácia Popular acabou em apenas 10 minutos.
Como se prevenir sem o fornecimento dos itens mais básicos e eficazes? Os métodos preventivos precisam ser adaptados à essa realidade, com respostas rápidas e viáveis do Estado.
Os relatos acima e muitos outros têm sidos postados nas redes sociais com a hashtag #Covid19NasFavelas, articulando informações e denúncias entre territórios. Enquanto o governo não toma as providências necessárias aos territórios marginalizados, são os próprios moradores como Raull, Renê e Tiê que mobilizam as medidas necessárias.
Os coletivos Papo reto e Voz das Comunidades estão coletando também doações através das redes sociais. A meta é conscientizar o máximo de pessoas possíveis e preparar kits que serão distribuídos aos moradores.