A difícil tarefa de continuar a adoçar vidas diante de tantas amarguras deixadas pelo novo coronavírus. Essa é a realidade de muitos confeiteiros que trabalham dentro de favelas e comunidades. Eles precisam se reinventar para não deixar morrer seus sonhos de fazer um pedaço da festa que alegra a vida das pessoas através de um bolo recheado com muito afeto.
Durante a pandemia, Jacira da Silva, de 61 anos, que trabalha há 40 como boleira em Rio das Pedras, ficou com sua loja de doces e decoração de festas fechada por três meses e todos os bolos e decorações que estavam encomendados entre março e junho foram cancelados. Ela conta que ficou muito abalada, pois sempre foi acostumada a trabalhar e fazer seus serviços.
A volta por cima começou aos poucos com a ajuda de sua equipe, formada por filhas e netas. Elas começaram a montar pequenos kits de festas que poderiam ser retirados em sua loja. “Neste ano, depois de fevereiro, foi só em setembro que eu fechei a primeira festa pra fazer a decoração”, explica.
O jovem Henrique Freire descobriu sua paixão pela confeitaria quando era militar. Foi com o incentivo dos amigos que ele começou a fazer o curso de confeiteiro e a vender bolo de pote no quartel. Há dois anos, ele vende bolos dentro e fora de Rio das Pedras e divulga seu trabalho no perfil “Doce Capricho” no Instagram.
“Hoje, não sou mais militar e minha renda é apenas da confeitaria. Quero abrir uma fábrica futuramente, mas estou muito inseguro devido à queda nas vendas por conta da pandemia”, diz
Com o impacto da Covid-19, Henrique perdeu muitas vendas. Ficou assustado, sem saber o que fazer e sem sair de casa. “Não vendi nada durante o pico da pandemia. Mas eu teria que recomeçar para ter dinheiro para sobreviver. Os boletos não ficam doentes”, desabafa.
Usando a criatividade e tentando alimentar a esperança, o boleiro criou novos sabores de bolos e produtos. Começou a direcionar suas vendas para clientes que ainda podiam comprar, tendo como principal clientela os amigos militares da Unidade da Força Aérea, onde trabalhou. “Os clientes estão na luta da sobrevivência e nós, empreendedores, também. Todo dia é uma busca de força e esperança”.
Também com muita garra, a boleira Hosana Castro diz que teve que se reinventar na pandemia e começou a fazer tortas em pote para vender por Rio das Pedras. Sua loja on-line “Nana Doces Gourmet” existe desde setembro de 2019 com uma linha gourmet de bolos e doces.
Com um filho de três anos e o marido desempregado, o sustento da família depende da venda dos bolos. Segundo Hosana, ela não poderia desistir mesmo sabendo de todos os riscos de sair de casa. Foi nessas saídas para trabalhar que Hosana percebeu o potencial de fazer kits festas. “Lancei os kits na loja on-line e foi um sucesso! Pedidos atrás de pedidos de kits pequenos feitos apenas para comemorações em família. No primeiro mês de lançamento, em abril, vendemos em média 35 bolos”, conta.
O sucesso dos kits festas foi tanto que a boleira não conseguiu dar conta sozinha, já que além de fazer os bolos, também é responsável pelas entregas. Ela então decidiu contratar duas pessoas para ajudar nas entregas e não perder os clientes que estava conquistando. Segundo Hosana, esse “novo normal”, inexplicavelmente, a fez crescer. “Hoje, a “Nana” é composta por uma confeiteira e duas auxiliares. Graças a Deus nossas vendas não caíram. Pelo contrário, só aumentam! E hoje eu sou grata pelas coisas que a confeitaria está proporcionando em minha vida”, completa.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.
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