Batalha da leste
Batalha de Leste é espaço de cultura e inclusão no hip hop. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

Na zona leste de São Paulo, na passarela entre o terminal Itaquera e o estádio do Corinthians, acontece uma das grandes disputas de rima da capital, a Batalha da Leste. Nela, diversos rimadores de improviso – e cada vez mais mulheres, apesar de ainda serem minoria – se encontram para tentar vencer a competição da semana. Há 12 anos é assim.

Desde 2011, a Batalha da Leste tem sido local de organização e ponto de encontro de jovens que rimam, mas ela mudou de lugar. Começou na travessa do metrô Corinthians-Itaquera para o shopping colado à estação. Mas o fluxo de pessoas atrapalhava o evento, e o evento atrapalhava as pessoas.

Então a batalha se mudou para o lado oposto do terminal, no final da ponte que liga a estação ao estádio Neo Química Arena. Atualmente, a disputa é organizada por Renan Tavares, vulgo Tavares, 25 anos, e por Pedro Andrade, vulgo Andrade, de 24. Os chamamentos para as batalhas são feitos, principalmente, por redes sociais, nas quais também são postados vídeos dos encontros.

Segundo os organizadores, a BDL é uma forma de ajudar jovens, um jeito de fazer com que, ao invés de seguirem algum caminho ruim, ou cultivarem posturas antissociais, sejam acolhidos. Mesmo que não batalhem, podem se enturmar. Segundo Andrade, “já teve jovem que desistiu de ir fazer coisa errada e veio para a batalha se divertir com a galera”.

“Nós somos orientadores educacionais”, disse Tozarelli, um dos rimadores e frequentador da Batalha da Leste. Com 19 anos, sempre frequentou o local e diz que rimar, não só na BDL, mudou a vida dele. A cultura do hip hop “fez com que eu não me envolvesse com coisa errada, e me interessasse pelo movimento”.

Tozarelli, 19 anos, rimar para educar. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

Rimadoras e rimadores chegam de todo lugar

No primeiro sábado de junho, a ANF esteve presente para a edição Desafio da Batalha da Leste. Havia cerca de 150 pessoas. Diferente da maioria das competições, nesta ocorre um sorteio para escolha de quem vai ser desafiado.

A BDL atrai jovens de todo o estado de São Paulo e de fora, como Pedro, o Queiroz MC, de 19 anos, morador de São José do Rio Preto, interior paulista. Ele começou a rimar em batalhas há um ano e meio.

“Nós, do interior paulista, normalmente acompanhamos a cena pela internet. Então, ter a oportunidade de rimar aqui é um grande prestígio, uma forma de mostrar nosso talento ao mundo”, diz Queiroz MC.

Campeão da edição acompanhada pela ANF, em 3 de junho, Murilo Black Panter tem 17 anos. Ele vem de Caraguatatuba e também vê nas batalhas uma forma de expressão do jovem para fugir de realidades duras e caminhos tortos.

Panter, 17 anos, campeão da semana. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

Rimar na BDL é uma “sensação única” por conta do apoio da plateia. “É algo muito gratificante, batalhar e ganhar aqui, uma coisa que eu sempre quis fazer”, resume.

Inclusão feminina nas batalhas

Ao menos duas rimadores têm participado das edições da Batalha da Leste. Samai Fernandes Colombiana, de 28 anos, vinda de Minas Gerais, é uma das mais visíveis da cena.

Tem nove anos de rimas e comparecer à BDL pela segunda vez foi uma experiência diferente, apesar de que “rap é rap, em qualquer lugar“. Além de rimadora, Colombiana é poetisa, cantora, compositora e apresentadora.

Na cena das batalhas, ela uma das principais representantes de estado de Minas Gerais. Foi uma das finalistas estaduais do Duelo Nacional de MCs e a primeira mulher a apresentar a final do evento.

Colombiana, destaque de Minas Gerais em São Paulo. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

“Sempre queremos trazer, ao menos, duas MCs para batalhar em toda edição. É algo que fazemos questão, tentamos fazer com que seja um lugar acolhedor para elas. Infelizmente, ainda há muito machismo em batalhas, algo que sempre desencorajamos. Também temos edições de dois em dois meses chamadas Edições Diversidade, onde somente batalham mulheres cis e grupos LGBTQIAP+”, conta Andrade

Desafios para ter acesso à cultura

Por não visar primeiramente o lucro, a BDL enfrenta alguns perrengues econômicos (não tem patrocínio) e logísticos, como providenciar um gerador para alimentar as caixas de som e outros equipamentos.

“Temos que nos mexer sempre, pelo menos arrumar água para os MCs que comparecem, passagem para eles, isso tudo enquanto precisamos pagar as pessoas envolvidas na organização, DJ, motorista, pagar combustível para o gerador, as vezes precisamos vender o café pra pagar o almoço, sabe?”, relata Tavares.

Enquanto driblam as dificuldades, mudanças positivas vão acontecendo nas vidas de quem participa da Batalha da Leste. E na rotina da cidade. A passarela onde ocorrem as disputas não fica mais cheia de gente somente nos dias de jogos do Corinthians. As disputas de rima também mobilizam torcidas apaixonadas.

Gostou da matéria?

Contribuindo na nossa campanha da Benfeitoria você recebe nosso jornal mensalmente em casa e apoia no desenvolvimento dos projetos da ANF.

Basta clicar no link para saber as instruções: Benfeitoria Agência de Notícias das Favelas

Conheça nossas redes sociais:

Instagramhttps://www.instagram.com/agenciadenoticiasdasfavelas/

Facebookhttps://www.facebook.com/agenciadenoticiasdasfavelas

Twitterhttps://twitter.com/noticiasfavelas