Débora Caroline Pereira, a Deby Tranças, e a filha Naomi Pereira. Deby atua no Mães Pretas. FOTO: Arquivo pessoal

Durante o mês de novembro, mais uma vez, pudemos ver toda a efervescência das discussões raciais. Para os engajados na luta antirracista, foi um período para rever os avanços, intensificar as discussões e campanhas, e também de celebrar vidas pretas através da cultura.

Em Curitiba, cidade onde moro, tive a oportunidade de participar de alguns encontros e sentir o calor nas falas de resistência, principalmente das mulheres, a respeito das lutas e da esperança que existem da capital mais preta do sul deste país.

Falo em especial das mulheres, pois este é um grupo do qual venho me aproximando muito nos últimos anos, especialmente depois de me tornar mãe. Quando penso em resistências femininas pretas, penso também em todo o horror que as mulheres negras viveram quando foram sequestradas e trazidas à força para servir aos colonizadores europeus no Brasil.

Também penso em estratégias, como o uso das tranças com códigos secretos, que indicavam caminhos para fugas em direção à liberdade.

A história que tentou ser apagada com incineração dos documentos relativos à escravidão brasileira, sob ordens do ministro da Fazenda, Rui Barbosa, em 1890, segue viva. Uma das grandes tradições de origem africana é a oralidade, diferentes etnias e religiões seguem transmitindo suas histórias e costumes de geração em geração, como uma aliança entre o ancestral e o afrofuturismo.

Cláudia Nunes, terapeuta e integrante da coordenação do coletivo Mães Pretas. FOTO: Arquivo pessoal

Em Curitiba, entidades como a Rede de Mulheres Negras, fazem formações para meninas e mulheres, com olhar para a saúde e políticas de valorização de gênero e raça/etnia. A Rede atua há mais de 10 anos fortalecendo a população negra.

Também tenho observado outros movimentos como a Marcha do Orgulho Crespo, que acontece há oito anos e tem o olhar voltado para as crianças e a valorização da estética e cabelo crespo; o grupo de leitura das Digitais Pretas, que se encontra semanalmente para estudar obras de mulheres negras como Conceição Evaristo; e o Coletivo Mães Pretas que é um grupo de emancipação, empoderamento e protagonismo da mães negras de Curitiba e região.

Há muitas outras associações e mulheres que, mesmo individualmente, trabalham de maneira independente para a emancipação de outras mulheres e crianças pretas. A tentativa de apagamento da história do povo negro segue firme em Curitiba, mas na outra ponta estão as mulheres negras que continuam, estrategicamente, partilhando o cuidado, o afeto, luta e a alegria.

É de nós, matrizes genuínas que uma nova cidade e um novo mundo surgirão.

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