Local tem cerca de 50 escravos enterrados entre 1810 e 1855. FOTO: Erlaine Gracie

O Cemitério dos Escravos em Santa Luzia está localizado em uma área rural, a 7 quilômetros do Centro Histórico. A construção é pequena, de aproximadamente 20 metros quadrados cercados por muro de pedras. Ele foi tombado pelo município em novembro de 2008.

No local não existem lápides e túmulos, como nos cemitérios convencionais. Há apenas um cruzeiro em madeira, uma pequena porta e um caminho cimentado. Álvaro Diniz, 75 anos, é o dono das terras onde fica a construção. Ele conta que tem mais de 50 negros enterrados no local.

Álvaro é bisneto de um dono de escravos de Santa Luzia e narra que o bisavô fez questão de fazer um campo santo para sepultar seus escravos.

Propriedade familiar

De acordo com a historiadora Neise Mendes Duarte, pesquisas realizadas nos registros de óbitos de Santa Luzia evidenciaram a ocorrência de sepultamentos entre os anos de 1810 e 1855 no Cemitério José Nunes Moreira, que mais tarde aparece como a fazenda de João Nunes Moreira, bisavô do Álvaro Diniz.

José era o tataravô de Álvaro e vendeu as terras para o filho, João. Todos os funerais levantados nessa propriedade eram de escravos.

Celebração em homenagem aos pretos

Álvaro relata que, em 1987, o cemitério foi restaurado pelo prefeito da época, a pedido de sua mãe, que estava com 97 anos e queria celebrar uma missa no dia de Finados. A partir desse ano, tornou-se uma tradição da família realizar a missa todo ano, dia 02 de novembro, às 16 horas, incluindo um café servido para a comunidade, como fez a mãe de Álvaro na primeira missa.

Por volta de 15 anos atrás, o padre João Lucena, da Paróquia de São Raimundo Nonato, do bairro São Benedito, em Santa Luzia, assistiu a missa e passou a incluir uma celebração afro em homenagem aos negros enterrados ali.

Proprietário mantém cemitério preservado

Álvaro diz que, hoje em dia, é ele quem se responsabiliza pela preservação do local. “Todo ano eu tenho que dar uma regularizada. Faço isso primeiro em homenagem ao que minha mãe pediu. Segundo porque, apesar de estar tombado, o município não cuida”, diz.

O dono das terras relembra as histórias contadas pelos antepassados e fala sobre o escravo Zé Tomaz. “Na Revolução de 1842, ele enterrou toda a prataria e tudo que tinha de valor do meu bisavô e escondeu no mato”, recorda, com emoção.

Cemitério é aberto para práticas religiosas

Depois disso Zé Tomaz foi alforriado e passou a fazer parte da família. Ele é um dos negros que está sepultado ali. “Esse cemitério é um pedacinho da nossa história e como luziense eu procuro da melhor forma possível conservar e mostrar porque aqui existe”, fala Álvaro.

O Cemitério fica disponível 24 horas para visitação e a entrada é franca. Diversos rituais, oferendas e eventos religiosos são praticados no local por pessoas que acreditam que as almas dos escravos tomam conta do lugar, que se tornou sagrado.

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