Estamos no mês consagrado à Consciência Negra, data festiva, onde todos os negros prestam homenagem ao herói brasileiro Zumbi dos Palmares.

Quando o Papa Bento XVI, visitou o Rio de Janeiro, num dos seus discursos disse que: – os índios e negros aceitavam com mansidão o processo de evangelização e que os negros eram calmos e satisfeitos com seus donos (algozes) porque tinham o que comer e onde morar.

Ora, o Brasil em sua imensidão com quase 9milhões de quilômetros quadrados, tinha fartura de alimentos em suas faunas. Logo, comer para os negros não seria problema e nem favor. A submissão do negro ao senhor branco, aconteceu apenas aparentemente porque de fato, o que havia era muita revolta e motins, com o objetivo de fuga e liberdade, além das vinganças cotidianas pelos maus tratos.

No livro História de São Mateus – município do Espírito Santo, pág.60, está escrito: – Dentre as atitudes pessoais de revolta, a tradição oral de São Mateus dá conta de um certo “pó de amansar sinhô”, que era um tipo de envenenamento lento, feito com a cabeça de cobra Preguiçosa torrada e depois moído e que era colocado nos alimentos. Vidro moído, também era colocado na comida e até assassinato a mão armada eram formas de vingança contra os cruéis senhores (Conf. narração do Mestre Balduíno, já falecido).

Toda história contada pelos colonizadores, assim como aquela fala do Papa Bento XVI, devem ser vistas com ressalvas.

No mês da negritude, temos a obrigação de informar, conscientizar e incentivar o nosso povo negro, para que ele saia desse incômodo silêncio de inocente, o qual já incomodava o outro grande líder – Martin Luther king.

Já passou da hora das favelas, maior concentradora de negros, descerem os morros para cobrar que se cumpra definitivamente tudo que está escrito na Constituição Federal. Também está na hora das nossas Nizingas (guerreiras), seguirem os exemplos de Zacimba Gaba, heroína, escrava do fazendeiro português José Trancoso, princesa de sua tribo africana. Revoltada com as torturas por que passou, entre tantas, o estupro, Zacimba liderou um grupo que se embrenhou nas matas e formou um quilombo às margens do Riacho Doce, região noroeste do Espírito Santo. No quilombo, Zacimba organizou grupos de ataques aos navios negreiros. Atacavam à noite em alto mar com canoas, dominavam a tripulação, libertavam os cativos e levava-os para o seu quilombo. Zacimba morreu em plena atividade guerrilheira, atitude digna de uma princesa que se tornou a primeira heroína negra de São Mateus. Zacimba Gaba era princesa da nação Cabinda, em Angola.

Em homenagem a Zacimba, fiz a segunda parte do meu samba – O Falso Guerrilheiro. É a história de um político desses que se diz de esquerda e que entrou no nosso quilombo urbano a favela do Jacarezinho, maior concentradora de negros em favelas no Rio de Janeiro, pedindo votos e falando que fazia e acontecia. Chegou de lenço vermelho e usando uma boina tipo Che Guevara. Vejam o que aconteceu com ele no meu samba:

LOGO CHEGARAM AS DANDARAS

DO MUNDO DA GENTE

SÃO NEGRAS VIBRANTES

E DE SANGUE QUENTE

NIZINGAS MARCANTES ELEGANTES DEMAIS

LEVARAM O FALSO GUERREILHEIRO

PRO MEIO DA FAVELA

DERAM UM PAU NO SAFADO

NOS BECOS VIELAS

PENDURARAM NO TRONCO COMO EM TEMPOS ATRÁS.

 

Rumba Gabriel