No programa “Conversa com Bial” (TV Globo), a cantora Anitta declarou que não acreditava em competição: “Acho competição uma coisa burra. Acho que quem compete se limita ao limite do outro. É muito burro não querer que outra pessoa não faça a mesma coisa que eu ou tão incrível quanto”. Mas não fomos acostumados desde cedo a competir? Sobreviver em um sistema capitalista e globalizado não nos obriga ao modelo competitivo? Não. Competir é uma escolha, não necessariamente inteligente.
Marcas e empresas – todas, inclusive sociais e filantrópicas – adotariam grandes sucessos de marketing caso se associassem à imagem de cooperação e ajuda mútua. A estratégia é utilizada por cidades pequenas ou médias com economias locais e que se fortalecem criando zonas de comércio em vez de disputar espaço e lucrarem valores irrisórios. Para as empresas de pequeno porte, isso é o que garantiria maior alcance de visibilidade, citando apenas um exemplo. Esse é o exemplo de Anitta, que com os chamados featurings (participações em músicas de outros artistas) consegue emplacar atualmente o dobro de sucessos em rádios nacionais e foi a segunda brasileira a cantar em um programa americano por sua participação na música da cantora Iggy Azalea.
Anittas à parte, Eduardo Marinho, o homem que ganhou certa “fama” por ter abandonado bens materiais para seguir com sua kombi e seus valores, conta a história de ter estudado em colégio tradicional e ter disputado várias corridas enquanto adolescente. Ressaltou, inclusive, que era bom no esporte. Um dia, deixou de competir porque simplesmente não se sentiu feliz em ver colegas de atletismo chorando e perdendo para ele, que nem tinha se dedicado com tanto afinco. Desistiu de ganhar medalhas, prêmios e congratulações, despertou a ira de seu treinador e de seu pai porque enxergou que nem toda disputa traz significado. O valor da maioria das competições é nulo para o caráter, perfeito para o ego.
Compete-se por três pontos: para mostrar que pode ser melhor, provar que é melhor ou enganar-se que se é melhor que alguém. Por disputas pessoais, por poder, por ambição, vício ou distração. Aliar-se ao outro é também ser representado por ele, somar forças, expandir-se por outros horizontes. Expandir com empresas parceiras é fácil, e a diferenciação virá daqueles que arriscam dialogar com os adversários.
Um dos comerciais de TV mais memoráveis é aquele em que o Gugu, então dono dos domingos no SBT, dialogava com o Faustão, seu rival na Rede Globo, ignorando a disputa mais acirrada dos domingos dos anos 1990. Ou quando a propaganda da TeleSena (produto 100% SBT) era exibido pela detentora do canal 4 da televisão aberta. Eu, secretamente apaixonada por marketing, ficava com um nó na cabeça, mas, ao mesmo tempo, completamente encantada. Não é a toa que chamam Silvio Santos de gênio.
Poderiam ter sido usados outros argumentos, tal qual a competição como expoente da inveja contra alguém que faça um trabalho melhor que o seu, o que acontece em 90% das melhores famílias e empresas brasileiras. Mas, como diz o dito popular, “não me inveje, trabalhe”. Eu prefiro ir mais além: não inveje. Trabalhe junto.