Não é tão comum verificar na historiografia brasileira, agentes oficiais do Estado e muitas personalidades relevantes (socialmente falando) que atuaram em prol da parcela mais desfavorecida da população, em termos socioeconômicos e raciais.
Lembramos de Luís Gama, poeta e rábula abolicionista, filho de Luísa Mahin, que foi vendido como escravizado pelo próprio pai pra pagamento de uma dívida de jogo. Tendo se formado em direito por conta própria, atuou na área sem o diploma do ensino superior (algo ainda permitido no século 19) conseguindo, segundos dados de pesquisas históricas, a façanha de libertar por volta de 500 negras/negros escravizada/os por via judicial. Hoje é conhecido por forma da lei 13.629/18 como patrono da abolição da escravidão no Brasil.
Outra voz que se levantou em direção semelhante foi a do poeta condoreiro Castro Alves, que mesmo tendo saído de uma condição familiar favorável, emprestou sua arte poética e sua posição social à denúncia da escravização do povo negro em solo brasileiro. Como não lembrar de seu épico e dolorido poema “Navio Negreiro”?
Obviamente, as vozes e vidas de luta nem sempre chegaram aos holofotes hegemônicos, pois, não era (nem é) de interesse das camadas abastadas a denúncia contra suas próprias opressões de raça/classe/gênero.
Assim chegamos à figura de Cosme de Farias, político e rábula nascido em Salvador lá pelas bandas de São Tomé de Paripe, em 1875. Tal como Luís Gama, tornou-se rábula pela via autodidata, pois, por meio oficial, só chegou a concluir o curso primário. Militou na área da Educação pública abrindo no ano de 1915 a Liga Baiana contra o Analfabetismo, que atendeu até meados dos anos 70, a população mais desassistida de Salvador (e outras cidades baianas), através da abertura de escolas e distribuição de cartilhas, além de oferecer apoio jurídico. Tendo ficado popularmente conhecido como o “Advogado dos pobres”
Dentre os feitos históricos, ele também foi responsável por libertar por meio de habeas corpus judicial a cangaceira Dadá, viúva do cangaceiro Corisco, isso já sendo patenteado Major pela Guarda Nacional (força paramilitar organizada no Brasil de 1831 à 1922, durante o período imperial que precedeu a República). Além disso, foi um ferrenho opositor da ditadura militar impetrada no Brasil em 1 de Abril de 1964. Morreu em 14 de março de 1972, aos 97 anos, ainda em pleno exercício do mandato de deputado, sendo assim, o deputado mais velho do mundo.
O BAIRRO: A localidade de Cosme de Farias em Salvador recebe seu nome a partir dos anos 60, quando lá este foi morar (antes chamava-se Fazenda Saldanha e Quinta das Beatas). Localizado na região central da península de Salvador, faz fronteira com os bairros de Luís Anselmo e Brotas, possuindo acesso direto ao vale do Bonocô (Av. Mário Leal Ferreira). O bairro possui um desenho geográfico irregular, com inúmeras ladeiras e escadarias, ruas estreitas e vielas, isso implica diretamente nas habitações (em grande parte, precárias) que vão se insinuando entre subidas e descidas num serpenteio imenso. A população média é de 38 mil pessoas, segundo dados do IBGE.
O comércio formal e informal se alastra pela rua principal do bairro; farmácias, mercadinhos, armarinhos e feirantes dividem espaço em busca da reprodução material da existência. Perto do final de linha ainda há um posto de saúde da prefeitura, que atende a comunidade local. Outra coisa a ser notada, é o número de escolas infanto-juvenis; são várias encontradas pelas ruas do bairro, que encontraram na ausência de creches (só há uma pública, no Bonocô) lugar de existir e mercar seus serviços. As igrejas evangélicas também compõem a paisagem central do bairro, com diversas denominações atuando em curto espaço geográfico.
No quesito cultural, o bairro carece de mais iniciativas e pluralidade, mas possui destaque para os grupos de capoeira e a Batalha do Trem Bala; rinha de mc’s que acontece semanalmente no espaço de convivência sob a linha do metrô no Bonocô. Por fim, a rádio comunitária de Cosme de Farias é a voz que recebe e alardeia os acontecimentos do bairro junto aos moradores da localidade.
O bairro pode ser dividido em oito comunidades principais: Alto do Cruzeiro, Alto do Formoso, Baixa do Alto, Baixa da Paz, Baixa do Silva, Baixa do Tubo, Campo Velho e Sossego.