“A inspiração é um cachorro preto, um doberman bem aí atrás de você”, disse certa vez Henfil, o lendário cartunista carioca. Ele foi muito certeiro nesta frase, por sinal. Podemos pensar que a transpiração, sem dúvida, acontece quando o melhor amigo do homem ataca e é preciso possuir aquela ginga de um bom capoeira para sair ileso.
Na última terça-feira, o rapper Emicida esteve presente em um evento no Rio onde contou a sua história e suas lutas até chegar na posição em que se encontra hoje: artista de carreira sólida, reconhecido no Brasil e com shows internacionais no currículo. Quando contava sobre a sua passagem pelo Japão, o rapper citou que os músicos de lá são excelentes devido à dedicação, frisando o fato de que lá não precisam se preocupar com a sobrevivência, como é o caso dos artistas das favelas e periferias do país. Esse ponto é crucial e faz toda a diferença para os que trabalham ou desenvolvem alguma atividade do setor criativo e/ou artístico.
Para favelados e periféricos, a luta para sobreviver e poder usufruir de direitos básicos, geralmente, é o que acende a criatividade. Somos makers ou fazedores antes mesmo desses termos se tornarem pop-cult-bacaninha. Seja para puxar gato de luz no poste e ligar o som, desenrolar com o tráfico do local ou na correria de camelô, somos daqueles que dão um jeito para fazer acontecer pelo simples fato de que não farão isso por nós – até porque nada nunca foi fácil para os nossos também.
A forma como usamos o pensamento é de extrema importância. Como disse Pedro Cruz em seu texto “Penso, logo existo”: “Precisamos exercitar mais o pensar. Pensar de maneiras diferentes. Ter novas perspectivas sobre os mesmos assuntos. Precisamos pensar nas formas como nos relacionamos com as pessoas, nas nossas relações com o meio onde vivemos”.
A gambiarra está no sangue.