Crônica: A orgia de um crime

Crônica - A orgia de um crime (Representação).
Crônica - A orgia de um crime (Representação).

Houve um assalto. Um dos grandes. Talvez daqueles que se revelarão memoráveis, de todos os tempos. Não houve reação. Não teve agilidade para tal? Nem distância segura, habilidade, preparo?

O silenciar da noite, certamente, deixa mais visível o rastro do medo, da insegurança. A mente criminosa sente os sintomas no faro. O que é um banho de vapor num quarto escuro na Hong Kong colonial para quem era, assim chamado, “comedor de ópio”? Uma isca ideal para uma tentação inevitável.

Muitos gostariam de arriscar o feito, poucos a excelência de tentar. Não houve uma solitária voz aclamando justiça, não houve. Não se viu ambulância interromper o cochilo dos vizinhos. Não houve chamado. A polícia não se mobilizou. Não se ouviu sirenes nessa parte da cidade. O traficante local não se assustou, não cessou seu negócio. Nenhum oficial competente apresentou exigência sobre conteúdo gravado pelas câmeras de segurança. Nesse instante mesmo a Civil não faz boletim de ocorrência, não faz retrato falado, ou colhe relatos de terceiros, nem sabe se há testemunhas sem receios de falar. Consequentemente não faz balística, não investiga se o sobrevivente, até o momento, se encaminha pro CTI ou pro IML.

Dirão, sem dúvida, que não houve assalto. Haverá quem até, reconhecendo o incidente, defenderá que a ação estava sob tutela da lei, que vagabundos àquela hora dando sopa têm mesmo que serem abordados. Semelhante a um maníaco que, pela variação de muitos fenômenos, distorce a realidade.

Entre à hora do jantar e a noite profunda, sem prever da alçada de que delegacia, um país inteiro da envergadura de um continente acordou terrivelmente mais pobre. As principais vias não paralisaram. Ônibus, trens e metrôs, como latas de sardinha, despacharam sua carga com eficiente pela manhã. Em cidades onde a fome, o desemprego, e o desabrigo cobrem as ruas, nenhuma manifestação reconhecida. Nem qualquer desagravo as autoridades. Nenhum cartaz em mãos indignadas do rosto da vítima. Tampouco gritos de dor. Um despertar de dia habitual, como a morte, que nos leva cada dia, sem escândalos. Nenhuma suspeita de mando. Quem ganha com isso. Quem acobertou.

Convenhamos, o maior assalto, possivelmente, do século tem tantos cúmplices que ninguém, nenhuma instituição de Estado se prontificou. Apenas, nessa cerrada manhã de sexta 10 do seis de 22, vemos uma pequena nota de roda pé legitimando a rapina com índices da bolsa de Nova Iorque. “Na mão grande”. O roubo, pois, também foi internacional.

O produto da surdina foi a Eletrobrás, maior sistema no ramo elétrico da América latina, dividida em geração, transmissão, distribuição. Seu dono e vítima, o povo.

Onde as instituições e a polícia estão viradas para ladrões de galinha. Onde a imprensa defende essa afronta, porque ideologicamente se ver apenas como empresa e advoga a favor da riqueza de uma nação na concentração da propriedade privada, nosso bandido é o mercado financeiro e seus grandes acionistas. Um bandido viciado no bolso de quem tem menos, que compra o silêncio das instituições, e da própria imprensa. Uma orgia com o compromisso senão com o próprio lucro.

Mais uma operação fantasma no seio de um governo hediondo. Saqueados, portanto, preparem-se, seu trabalho será mandar boletos. Baterá à hora do jantar. O que esperar do próximo pacato ocultar da noite?

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