Livre do peso que a pálpebra habita. Deparei-me com um caos de sentidos. Que presumo, escapam o abismo de amores servis. Digo à tela. De alma pra alma. Eu sei que há um mar aí. E céu. E nuvens. E homens que se preparam de encontro ao cárcere. Ilhados sairão. Em jangadas voltarão celestes. Quem pudesse ver a cena que eu vi, se depararia com a rigorosa destreza de corpos uivantes como nuvens. Ressoam, vibram, desdobram-se em cada canto. Ondas em vastidão. Há mãos, pés dedicados ao labor, como vulcões enfurecidos, como raízes e galhos vulneráveis. São os mesmo pés, que sabemos, tem deixado os rastros da agonia, e com razão. As mãos que carregam a saca, que equilibram o fardo, suportam o mundo, são a mesma mão que parece desafiar o azul do céu, como piano tocasse. Sei bem, seus quatro cavaleiros do apocalipse noite após noite o aniquilam, e assim, com suor e sal, o ressuscitam de dia. E até, quem sabe, não são o sangue dos mártires redivivos no ato, nas nuvens em chamas, em choque com seu destino, que batizam essas terras com as dores do passado vivo. Talhados, os elementos, no vasto exercício de reflexão dos gestos, candeiam para além da miséria do cotidiano, ainda que esses sejam espelho, do aquém, do desastre de nosso tempo.
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