Em uma conversa com minha mãe durante o período letivo, estive a falando sobre as violências institucionais que, em poucos meses de universidade, estive enfrentando. Desde os primeiros passos que dei dentro da Universidade de São Paulo (USP), senti que mesmo que fosse meu sonho estar dentro desse espaço, ele não era feito para mim.
Esse sentimento se agravou com a recusa de pessoas ao meu redor de me aceitarem ali e eu utilizar de sua linguagem para me expressar. Por ser quem sou, não posso conversar na linguagem acadêmica que ali se exige? Senti o peso disso durante todo o primeiro semestre. Senti o peso de querer alcançar as oportunidades que ali se ofereciam.
Era tudo novo, bonito, gigantesco ao meu ver. Eu sentia que um sonho se tornava realidade, por ser aquele lugar que me levaria a tantos outros que sonhei um dia poder galgar. Segui firme durante o primeiro período e, por um tempo, esqueci da guerra que eu estava enfrentando.
A guerra não é apenas contra o sistema. A guerra é também contra a ignorância. O espaço da sala de aula seria para aprendermos uns com os outros, e os termos que eu usava podiam ser nichados à minha vivência, mas os aprendi por conta da violência sistêmica que corpos parecidos com o meu sofrem nesse país. Até que fui atacado sem dó ou piedade dentro do espaço de sala de aula.
O sentimento que eu já possuia de que aquele espaço não me pertencia se aflorou e corri de volta ao meu lugar, perto de minhas avós e minha mãe, no Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São Gonçalo. Apesar de estar entre os meus, nada se amenizou. Peguei ônibus perto do Morro do Fubá: guerra. Fui em Jardim Olavo Bilac ver minha vó: guerra. Em todo lugar que eu passava, a guerra parecia que apenas continuava e eu me limitava a ser apenas mais um peão desse tabuleiro.
Adoeci mais, entrei em choro compulsivo. Ingressei em Jornalismo com a vontade de mudar a realidade que eu vinha, mas não consegui vencer em nada. A guerra institucional: perdi. A guerra do espaço público: perdida. Volto a São Paulo com o medo que tudo me trouxe e, de novo, operação escudo em Guarujá. Guerra. Guerra. Guerra.
Lembro, então, de um ônibus que peguei para ir ao Rio. Parada final? Leblon. Ninguém senta ao meu lado, até que seja o último lugar dentro do ônibus vago. Mais uma batalha perdida. A conversa com minha mãe parecia que, cada vez mais, fazia menos sentido, porque a violência da micro a macro não foi contida. Sinto guerra em minhas mãos e a única arma que possuo são canetas e papeis, contra fuzis e pistolas.
Guerra. Até onde vai a Guerra?
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