Prá!!!
Foi o barulho da cabeça de Everaldo contra as grades do portão do bar da Sônia. Quem
estava batendo era Jonas, ex de Luíza, que bebia uma cerveja com Everaldo antes de
Jonas chegar.
Depois de bater a cabeça de Everaldo contra o portão 4 vezes, Jonas deu uma joelhada na boca dele, e esse foi definitivamente o momento em que ele desmaiou. Eu vi os olhos se fechando no instante em que Jonas tornou a ficar em pé.
Um sujeito se aproxima e segura Jonas pelo pescoço. Luíza chora sem saber o que fazer.
Luíza acabou de fazer 16 e tem um filho de 2 anos, com Jonas de 19, que não aceita o
término do relacionamento e persegue a ex companheira desde que ela decidiu se separar.
Eu sou cliente de Luíza, e um dia ouvi a sua história: Largou os estudos quando descobriu que estava grávida e passou a vender roupas a domicílio para conseguir o sustento dela e do filho, já que Jonas, ex 157, não consegue emprego formal por ter “ficha suja” e
trabalha de moto-táxi no morro. Dia tem dinheiro, dia não tem, dia é extorquido por bandido ou pela polícia. Luíza tentou conciliar os estudos com o serviço doméstico, mas não estava absorvendo nada porque “dormia acordada” na hora da aula, segundo ela, e não prosseguiu.
O abandono escolar é um problema persistente no Brasil há décadas.
Numa pesquisa do IBGE com 50 milhões de participantes com idade entre quatorze e vinte
e nove anos, dez milhões, ou seja, 20% delas, não tinha terminado alguma etapa da
educação básica. O principal motivo: Necessidade de trabalhar seguido de falta de interesse. Entre as mulheres se destaca a gravidez e as tarefas domésticas.
A situação é ainda mais grave no Nordeste, onde três a cada cinco adultos não
completaram o ensino básico. 700 mil crianças ainda estão fora da escola no país.
Os alunos que estão saindo do escola mais cedo, são justamente os que mais precisam da
educação para romper um ciclo de gerações, que de maneira coordenada é capaz de
reduzir a desigualdade educacional e assim consequentemente reduzir a desigualdade
social. É responsabilidade do Estado assegurar o acesso ao ensino básico, inclusive para pessoas que não tiveram acesso na idade própria.
O que fazer quando o educando não busca esse direito mínimo?
Qual o atrativo imediato que esses jovens têm dentro das escolas?
A promessa de futuro brilhante nunca vem pra quem é daqui, logo, não temos exemplos…
Everaldo ainda tonto foi para casa cuidar de seus hematomas, ele não acreditava que no
auge dos seus quarenta e poucos anos teria que apanhar de um valentão por causa de uma
“novinha”. Jonas pedia desculpa repetindo a frase: “foi por amor” “foi por amor”.
Luíza desapareceu num passe de mágica e ninguém sabe ao certo em que momento.
Sônia, dona do bar, conta que já presenciou coisas inimagináveis ali e que esse incidente não foi nada!
Dou um muxoxo e volto a tomar minha cerva.
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