Com o slogan de campanha que dizia que iria “cuidar das pessoas”, Marcelo Crivella foi eleito prefeito da cidade do Rio de Janeiro em 2016 com 1.700.030 votos, o que corresponde a 59,36% votos válidos. O carioca, com sede de mudanças, decidiu dar uma chance ao candidato que prometia priorizar a Educação e principalmente a Saúde da população, e que, apesar de ser evangélico, não misturaria política e religião. E em 1 de janeiro de 2017, Marcelo Crivella foi empossado prefeito para administrar a cidade do Rio de Janeiro por 4 anos, e o novo chefe do executivo da cidade reafirmou sua promessa de campanha em seu discurso de posse.
Mas, em seu primeiro ano de governo, Crivella se envolveu em várias polêmicas, dando algumas declarações controversas, chegando a dizer que era inexperiente e pediu paciência ao povo. Tomou decisões impensadas e metia os pés pelas mãos, voltando atrás quando era pressionado pela oposição ou aconselhado por seus assessores. Demonstrou claramente sua total falta de experiência em administração pública, principalmente para administrar uma cidade como o Rio, que é uma capital populosa, com inúmeros problemas bem complexos em todos os setores.
Logo após ocupar o cargo de Prefeito, deixou claro que em seu governo que política e religião iriam se misturar, sim, andando juntas, lado a lado, contrariando seu discurso de campanha e de posse. Entrou, então, em uma grande briga com as escolas de samba e todos os organizadores do carnaval do Rio de Janeiro. Reduziu o repasse de verba às agremiações, alegando que iria investir mais na Saúde e na Educação. Recusou-se a ir ao Sambódromo entregar a chave ao Rei Momo na abertura do grande evento, como é habitual a autoridade máxima da cidade fazer, pois, todos os prefeitos anteriores a ele entregavam, independentemente de suas crenças.
Mas, as polêmicas criadas por Marcelo Crivella não pararam por aí. O prefeito cogitou blindar as escolas públicas municipais existentes em áreas de riscos, para evitar que alunos fossem atingidos por balas perdidas em dias de operações policiais. Mais uma demonstração de falta de conhecimento do assunto, ou falta de interesse mesmo de se reunir com o governador do Estado para buscar uma solução que proteja mais as crianças em ambiente escolar. Preferiu fazer uma promessa inviável, que em nada contribuiria para solucionar o problema.
Polêmicas, polêmicas e muitas polêmicas foi e é, o que o Prefeito Crivella criou e vem criando ao longo de seu governo. E todas com muita repercussão não só no Rio de Janeiro, mas em todo Brasil. A última, que se tornou mundial, foi o recolhimento de um livro na Bienal com a temática LGBT, no qual havia uma imagem de dois homens se beijando. Crivella, em um vídeo publicado nas redes sociais, disse que estava tomando tal atitude para proteger nossas crianças. O barulho feito pelo Prefeito foi tão grande, que chamou atenção de quem estava no evento e de quem não estava, e livro se esgotou em poucas horas nos stands de vendas. O cuidado de Marcelo Crivella com as pessoas, em especial com às crianças, não convenceu ninguém.
Falar em cuidado do prefeito – ou o descuido, e por que não falar o abandono no qual ele deixou a população e a cidade do Rio de Janeiro? –, sua promessa de priorizar a Saúde e a Educação parece ter ficado lá no palanque da campanha.
Os dois setores estão completamente abandonados por ele, totalmente desassistidos, causando indignação em todos os cariocas, inclusive em seus eleitores. Não há um único dia em que os veículos de impressa não divulguem denúncias o descaso da prefeitura com escolas, creches, clínicas e hospitais.
No setor da Educação, a quantidade de reclamações ultrapassa o número de vagas em creches e escolas, o número de profissionais da área que compõe o quadro de funcionários, e o horário de permanência das crianças nos espaços. Pais e responsáveis denunciam diariamente a má conservação dos prédios, que funcionam sem manutenção, equipamentos quebrados, a falta de materiais básicos como papel, produtos de higiene e de limpeza e a falta de merenda em algumas escolas. E esses problemas se multiplicam em locais como a Zona Oeste, com reclamações até mesmo dos próprios alunos. São reclamações sobre falta professores em algumas disciplinas durante todo ano letivo, da liberação mais cedo por falta d’água ou de luz, e muitas vezes, por falta de merenda ou salas de aula sem condições de uso, deixando pais e responsáveis sem saber o que fazer e com quem deixar suas crianças para irem trabalhar. São inúmeros os problemas na área da Educação e a priorização da mesma prometida pelo prefeito Crivella talvez ocorra em uma próxima gestão dele, caso seja reeleito.
Outra prioridade de Marcelo Crivella, que também foi promessa de campanha e está sofrendo muito com o seu descuido – melhor dizendo, com o abandono – é a Saúde. É nessa área que vemos claramente que o slogan “eu vou cuidar das pessoas” não passou de mais uma frase de efeito, usada por políticos para impressionar os eleitores e conseguir se eleger. Pois a saúde pública da cidade do Rio está completamente entregue às moscas, às baratas, aos ratos e à enorme quantidade de problemas existentes em clínicas da família, UPAS e hospitais.
Filas de espera imensas se formam nas portas de algumas clínicas da família no início da madrugada. As pessoas vão em busca de conseguir marcação de exames, remédios controlados receitados pelo médico, ou de um atendimento, pois o número de senhas distribuídas é bem inferior a quantidade de pacientes. Como muitos falam em entrevistas dadas aos veículos de comunicação: “É muita humilhação ter que implorar por atendimento médico. Pagamos impostos”.
Falando em impostos, o que é feito do dinheiro que Crivella tira da verba destinada às escolas de samba? Não seria para investimento na Educação é na Saúde? Para onde está indo esse dinheiro, já que os hospitais não têm sequer insumos como gazes, esparadrapo e algodão para prestarem atendimento? O povo carioca merece no mínimo uma explicação dos gastos da prefeitura.
Para constatar o total abandono da saúde do Rio, estive em uma clínica da família próxima à minha casa e as coisas que vi e ouvi de alguns pacientes e funcionários não foram nada boas. Devido à greve parcial de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem e agentes de saúde que estão de aviso prévio, a mesma só estava atendendo quem estivesse agendado, pois o número de funcionários está bem reduzido por lá. Muitos não estão indo trabalhar por falta do pagamento de salário que, segundo eles, estava atrasado pelo segundo mês consecutivo. Muitos medicamentos em falta e sem uma previsão certa para chegar. Uma longa espera dos pacientes para serem atendidos por médico ou enfermeiro era uma das muitas reclamações na clínica. O desânimo na face dos pacientes e funcionários era bem nítido, pois dava para perceber o quanto estavam desanimados e frustrados com a tamanha falta de respeito e consideração por parte do prefeito. É o descuido dele com as pessoas.
A falta de cuidados atinge até mesmo aqueles que estão nascendo nesta que ainda tem o título de Cidade Maravilhosa, pois até as maternidades estão totalmente descuidadas e abandonadas. A maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, localizada no Centro é uma delas. Quando estive lá, há cerca de duas semanas, para acompanhar o nascimento de minha neta, prestei atenção em cada detalhe antes de conversar informalmente com pacientes e alguns funcionários. Afinal, queria estar a par de como minha nora e minha netinha que estava chegando ao mundo seriam atendidas e tratadas.
Nada para reclamar do atendimento, pois médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, recepcionistas e o pessoal da limpeza, a equipe em geral, são bastante atenciosos. Mas, como em todo hospital carioca, falta quase tudo. Não há copos para beber água próximo aos bebedouros é funcionários orientam que todos levem suas garrafinhas ou tragam copos de casa. Até aí, tudo bem, vamos diminuir o consumo de copos descartáveis. Não há alimentação para os acompanhantes, que acabam por fazer suas refeições em barraquinhas de lanches que ficam em frente à maternidade, em lanchonetes próximas ou compram biscoitos, barrinhas de cereais, batatas é cafés expressos nas máquinas que estão na entrada da unidade. Uma maternidade pública, que recebe em sua maioria pessoas humildes. Pessoas que mal têm o dinheiro da passagem para acompanhar a gestante, se veem obrigadas a gastar com alimentação devido ao fechamento do refeitório para acompanhantes. Não chega ser um tanto perversa esta decisão, Marcelo Crivella?
Pude observar tanta irregularidade que fica difícil descrever todas. Uma delas é falta de luz em alguns banheiros e muitas lâmpadas queimadas em partes das enfermarias. Conversando com uma funcionária, a quem recorri para solicitar um segundo comprimido devido o de minha nora ter caído no chão, me disse que dá época da inauguração até o início do ano de 2017, a maternidade Maria Amélia funcionava muito bem, mas de lá para cá, está cada vez mais complicado. É quanto ao comprimido, a enfermeira me disse que ela teria que aguardar o horário da medicação, pois todos os medicamentos eram contados e teria que suportar um pouco a dor. O comprimido era de dipirona, algo tão simples e tão comum em todos os hospitais.
Quando me identifiquei como jornalista é por isso estava fazendo também tantos questionamentos, a mesma começou a desfiar um novelo de queixas e reclamações. Me contou que funcionários fazem vaquinha para comprar papel para impressoras do aparelho desfibrilador, equipamento este essencial para realização de exame nós bebês, cujo resultado deve ser impresso na hora. Me falou também que muitos não estão indo trabalhar por falta de dinheiro da passagem e por aí vai. Como ela mesma disse, eram tantas coisas erradas que teria que ter tempo para me contar tudo. Confesso que o pouco que ela me contou me causou um certo espanto.
Pelo visto, o ilustríssimo Sr. prefeito Marcelo Crivella tem cuidado muitíssimo mal das pessoas e seu descuido não poupa nem mesmo as pessoas que estão nascendo na cidade do Rio de Janeiro. E como ele já se declarou candidato a reeleição em 2020, pelos relatos que ouvi e ouço nas ruas, seu descuido com a população talvez seja lembrado nas urnas.