Estamos conectados. Não há dúvida. Estamos nos comunicando o tempo todo. Quer dizer: repassando informações e expressando a nossa indignação. Alguns estão até se organizando, assim, a distância, mas com a incrível impressão de estar junto. Como se cada um, na sua casa, estivesse junto. Junto com quem está longe. Junto com seus medos. Junto com a ideia que se tem do outro. Esse talvez seja o maior presente que as novas tecnologias nos proporcionaram: a consciência da nossa necessidade básica de estarmos juntos. De trocar, compartilhar, “curtir”.
Mas então… por que não ir um pouco além? Tipo… ir pra rua, sentar num banco, conversar com alguém? Começar a resistência aqui na esquina… agora! Ocupando a cidade, tocando um violão, lendo um livro, desenhando, ensaiando, brincando… na praça!
Pois em tempos de informações manipuladas, de redes sociais vigiadíssimas e de arte censurada, a praça segue sendo o lugar mais democrático que temos a disposição. É só chegar! Assistir, interagir… o conteúdo não falta e a diversidade é grande! E tem mais: é barato! Com ou sem dinheiro, nessa época de crise, é bom lembrar que a relação custo / benefício de um encontro singelo, de um abraço apertado ou de uma simples presença é absolutamente imbatível.
E é por isso mesmo que a praça também é o lugar privilegiado da arte, da cultura e da educação. Por ser um espaço de liberdade e por pertencer ao povo. Pois, quando terminarem de fechar todos os teatros e museus da cidade, de privatizar todas as universidades e escolas, de cortar todos os recursos e editais públicos, nós ainda teremos ao nosso alcance o palco mais aberto e mais popular que existe. E se ele ainda não oferece nenhuma solução milagrosa à questão da remuneração de quem for usá-lo – mas vamos conversar sobre o chapéu? – ele apresenta pelo menos a vantagem de ter um custo estrutural bastante reduzido.
Notem, enfim, que este palco não é uma tela: ele é verdadeiro. Detalhe importante! Porque a vida também não é um canal de notícias… A vida é vida! Assim como “compartilhar” não é clicar em uma setinha. E, assim como um sorriso não é, e nunca será, um emoticon. Um sorriso nada mais é do que um sorriso, com olhar e tudo, mas sem chip, nem sinal. E pensando bem, me parece que “estar junto”, num momento tão decisivo, começa justamente sorrindo. Fazer cultura também.
Matéria publicada na edição de junho de 2018 no jornal A Voz da Favela.