Da Baixada para o mundo, a trajetória de Marcos Furtado no jornalismo

Marcos - Divulgação

Jornalista, natural de Belford Roxo, 28 anos, atual morador de Pereira da Silva, em Santa Tereza, zona central do Rio de Janeiro. Marcos Furtado é criador da cartilha que orienta os moradores de favelas no combate ao Covid-19, ganhou o mundo ao escrever sobre a Cidade de Deus, favela da zona oeste do Rio de Janeiro. Registrou a desocupação da Vila Autódromo e passo a passo constrói suas experiências e reescreve os meios onde vive e por onde passa, a serviço da justiça e da liberdade.

Prestes a completar a graduação, atentou mais ao contraste social de sua viagem: Baixada Fluminense até a Barra da Tijuca. Seus desafios diários sempre tiveram a mesma relevância de sua perseverança. Marcos relembra emocionado da ajuda que recebeu dos professores, que sempre reconheciam seus esforços. Com esse apoio, o jornalista participou do 11º Prêmio Santander Jovem Jornalista. Com o tema “Iniciativas digitais que facilitam o dia a dia”, Marcos ganhou o concurso.

“Escrevi a reportagem sobre o ‘CDD Acontece’, um informativo virtual que mostra o lado positivo da Cidade de Deus. Com esse trabalho, ganhei o concurso e recebi um intercâmbio na Universidade de Navarra, na Espanha, e um notebook, além de ter a minha matéria publicada nas edições impressa e online do jornal “O Estado de S. Paulo”. A partir daí as pessoas começaram a me enxergar. Hoje, inclusive, a minha foto está estampada na entrada da minha universidade. A foto de um preto da Baixada Fluminense na entrada de uma faculdade particular e com a maioria dos alunos brancos”, completou o jornalista.

Como escritor de realidades, transcreveu ocupações estudantis, vem acompanhando o trabalho e as pressões da Secretaria de Educação aos professores, em meio à pandemia, além de dar voz aos moradores de Magé, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, que enfrentam a quarentena em suas casas interditadas por conta das chuvas de verão. E por falar em pandemia, a cartilha elaborada por ele ressalta pontos importantes sobre o cotidiano de cuidados contra o vírus.

“Ouvi especialistas, profissionais da Fiocruz e moradores para a produção desse conteúdo. Depois de ter colocado tudo no papel dividi as orientações em quatro categorias: cuidados ao sair e voltar para casa, cuidados dentro de casa, cooperação entre os moradores e estratégia para a manutenção da qualidade de vida”, disse Marcos.

Todos os detalhes estão disponíveis no site do Projeto Colabora, orientando também em formato audiovisual.

Em meio aos problemas causados pelo coronavírus surgiram outras pautas: questões políticas, abismos sociais, o papel da imprensa, a liberdade dessa imprensa, liberdade de expressão, além do racismo, um assunto que já se discute há anos.

“Liberdade de expressão é agir com honestidade, consciência e responsabilidade. Consequentemente, a impressa está incluída nesse meio por conta do seu alcance e por sua função social. É muito bom ter liberdade de escrever sobre periferia, mas é preciso ser honesto para fugir do sensacionalismo, consciente para levantar temas de interesse público e responsável para não cometer injustiças”, argumenta.

Os abismos sociais afloraram durante a crise, onde cenas do cotidiano e noticiários se destacam quando o contexto deveria ser de diminuição, se considerarmos as medidas de distanciamento social. Vemos, então, o crescimento de atritos políticos e mortes em favelas. “É horrível em pleno século XXI termos que falar sobre a discriminação racial, mas ao mesmo tempo é oportuno parar, em meio a um momento que todos estão sendo forçados a dar uma reduzida no ritmo acelerado de suas vidas, e pensar no vírus racista que a sociedade carrega há séculos”, pontua Marcos.

Com o aumento dos protestos, o debate voltou a tomar voz. Contudo, segundo ele, o problema é mais estrutural e está inserido inclusive no jornalismo e nos processos de recrutamento, nem sempre abrangentes. À classe, cabe investimento em matérias focadas na transformação através da educação e na luta contra o autoritarismo. A luz no fim túnel pode parecer distante, mas Marcos mostra que existe um caminho para ascender neste país.