Parece mesmo evidente que a função do artista e o universo da arte existem para nos projetar, nos fazer enxergar além das nossas vulgares necessidades cotidianas. Ora nos apresentando significados para lutarmos com o caos que nos cerca, quando sorrimos diante da beleza, ora nos propondo em uma obra a reflexão histórica da nossa realidade, quando relativizamos a própria beleza e com isso despertamos a busca de respostas para nossas perguntas. E o livro Dandara contém tudo isso.
O jornalista e escritor Jeferson Pedro fez o pré-lançamento de Dandara (Editora: A Dona da Casa Produções), no Bar Cariocando, no Rio, e comentou sobre as aspirações que o provocou a escrever a obra.
— Resolvi falar sobre as linhas tênues que separam negros e brancos, pobres e ricos, direita e esquerda. O livro aborda racismo, feminismo, família, mulheres e travestis encarceradas, jovens infratores, mídia e segurança pública com foco nas relações entre polícia e traficantes / polícia e moradores de favela”, descreve o autor.
Nos atravessa o olhar o impacto de uma mulher no alto do morro portando um fuzil cruzado no ombro (capa do livro), talvez porque não tenhamos marcado a presença feminina nessa atividade. O autor nos esclarece que “temos registros de poucas heroínas – sobretudo negras – na nossa literatura e principalmente pelo fato do tráfico ser uma organização patriarcal na sua essência, quis dar o protagonismo a uma mulher”, esclarece o jornalista e escritor.
Dandara nasce num momento propício e nebuloso de ataques preconceituosos e violentos a populações periféricas. “Percebi que é urgente e necessário que as pessoas saibam o que a população negra que mora nas favelas e periferias do Rio passam todos os dias para sobreviver, se manter, existir e resistir”, adverte-nos o escritor.
* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, janeiro 2020.